segunda-feira, 26 de abril de 2010

Via Algarviana Day 9 De Salir ao Barranco do Velho

Desta vez os nossos companheiros de travessia adiantaram-se e lá foram saindo sem nós - eu e um outro caminheiro. 
Mas como os meus pés hoje estavam hoje perfeitos voamos sobre a via e uma hora depois apanhamos o grupo de forma surpreendente.
Atravessamos Salir, a da Moura Encantada, subindo até à Igreja. 
Não vimos as muralhas em taipa onde, como consta, se iniciou a última campanha da reconquista e expulsão definitiva dos Almoádas.
Descemos lateralmente à Igreja por um caminho estreito e empedrado para um rua na encosta, continuamos pelas ruelas em direcção nascente até deixarmos as últimas casas.
O caminho e os sendeiros vão atravessando pequenas hortas, onde abundam as oliveiras, algumas vinhas e aqui e ali moradias sem sinal de estarem habitadas.
O terreno apresenta-se muito enlameado, e vamos contornando os charcos. Por fim  desembocamos numa casa, onde uma senhora idosa nos interpela e nos pergunta se andamos perdidos pois o grupo já por ali tinha passado há um bom bocado.
Continuamos a todo o vapor até desembocarmos numa estrada alcatroada duvidosamente sinalizada. Hesitações, centenas de metros para a frente e para trás, e perante a ausência de sinais convincentes e a experiência de muitos quilómetros alcatroados nos trajectos anteriores continuamos estrada fora. Descemos, subimos e, num poste à nossa esquerda, lá aparece a indicação preciosa - estamos no bom caminho.
Hoje o calor aperta e o peso da mochila incomoda - um pão de cabeça, dois sumos, quatro peças de fruta, meio paio alentejano, água - sempre muita água, a inseparável "naifa" multi-usos, a máquina fotográfica, um par de meias secas, lanterna (ficou esquecida no fundo da mochila, desde a nocturna), um polar, e algumas bugigangas mais. Há que aliviar carga.
Chegamos a uma cruzamento em forma de T, e levamos algum tempo até descobrir o caminho a seguir.  Trata-se de um caminho em terra batida, em frente, ligeiramente descaído sobre a direita.
O caminho embrenha-se num bosque fresco e eis que soa o telefone avisando da iminente passagem do carro vassoura. Explicamos que não estamos necessitados de tal ajuda. Mas ainda há outro senão, avisam-nos de que a ribeira que cruza o caminho leva muita água e o grupo contornou-a pela estrada de alcatrão e aconselham-nos a voltar para trás. Nem pensar, ninguém nos vai convencer que uma linha de água da qual não se houve o mais pequeno murmúrio nos vais assustar - depois de umas dezenas de riachos ultrapassados!
Assim é. Vamos descendo e já ouvimos o ruído ameaçador do cascalho empurrado pela corrente. Avistamos uma clareira e ouvimos vozes do outro lado.
Em três passadas certeiras transpomos aquele mar algarvio e deixamos estupefactos os nossos companheiros de viagem que tiveram que andar umas centenas de metros a mais para chegar ali. Não há dúvida, aqueles vodkas com laranja da noite anterior colocaram-nos asas nos pés!
Hoje temos mais companhia. Por ser dia do senhor juntaram-se-nos mais uma dezena de participantes, vindos de todas as paragens - até de Lisboa, e de Èvora, e de Faro, e de Loulé...
Entramos no montado de sobro, que cobre todas as colinas em redor. Entre os sobreiros despontam milhares de estevas repletas de flores brancas. Estamos em plena rota do Chaparro, melhor da Cortiça - iniciativa emblemática promovida pela Câmara Municipal de São Brás de Alportel. Aproveito aqui um interlúdio para vos pedir que 
Salvem o MIGUEL.
Paramos para merendar à sombra destas árvores altaneiras. Improvisamos uns assentos incómodos com as inúmeras lajes de xisto que atapetam o chão. Abrem-se as mochilas e as sacolas e do seu interior saltam para a ribalta - iogurtes, barrinhas energéticas, pães, queijos, sumos ... Mas o êxito vai inteirinho para o chouriço alentejano. 
Recompomos-nos e subimos mais uns metros até ao Moinho encarrapitado no ponto mais alto da colina . A Susana resolve dar umas corridas à volta do mesmo. Ficámos sem saber se estaria desorientada ou apenas a tentar solucionar a  quadratura do círculo para aplicar no Bio- design.
Avistamos uma construção imensa do que parece ser uma Igreja futurista. Ao chegarmos mais próximo confirmamos a vocação do espaço, mas também o carácter maçónico da suas formas. Outras construções a seguem. Mais tarde ficamos a saber que se tratou de um projecto megalómano de um germânico - mania das grandezas!
Quero deixar aqui uma homenagem a um amigo poeta que escrevia letras para Fado, Companhia habitual nas noites do Arreda e mais tarde do Picadeiro, a quem atribuo esta letra que ilustra maravilhosamente a paisagem que atravessámos e que não merece o mau momento por que passa. A nostalgia, o fado, a saudade em palavras lindas engrandecidas pela profundeza da entoação - O Fado do Sobreiro


Fado do Sobreiro
Mesmo ao cimo do montado
No ponto mais elevado
Havia um enorme sobreiro
Que a dar bolota e cortiça
De todos era a cobiça
No montado era o primeiro

Certa noite a tempestade
Fez-se ouvir lá na herdade
O rebombar de um trovão
E no céu uma faixa risca
Quando uma enorme faísca
Fez o sobreiro em carvão

Passaram-se anos e agora
No mesmo sítio lá mora
Um chaparro altaneiro
Mas em noites de luar
Houve-se o montado a chorar
Com saudades do sobreiro

É assim a nossa vida
Constantemente vivida
Sempre e sempre a trabalhar
Mas quando a morte vêm
Nós deixamos sempre alguém
Com saudades a chorar


Cancion del Alcornoque

Alla arriba en el alcornocal
En su punto más alto
Había un enorme alcornoque
Que dando bellota y corcho
De todos era invidia
En el alcornocal era el primero

Una noche de temporal
Se ha hecho escuchar en el cortijo
El tronar de un trueno
Y en el cielo una raya se dibuja
Una enorme chispa
Hace el alcornoque carbon

Se han pasado los años, y ahora
En el mismo sitio vive
Un "chaparro" imponente
Pero en noches de luna llena
Se escucha el alcornocal llorando
Con nostalgia del alcornoque

Es así nuestra vida
Constantemente vivida
Siempre, siempre trabajando
Pero cuando la muerte llega
Dejamos siempre a alguien
Con "saudades" llorando
Via Algarvina                                     VER FOTOS 

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Desde a minha casa , para os que me visitarem hoje - Cristina Branco

Vias Algarviana Day 8 - A prometida Nocturna transformada em Madrugona

Alte é uma povoação muito carismática onde os Algarvios se vêm abrigar do calor nos dias e noites quentes de Verão, deixando as praias para os alfacinhas.
Ainda noite tomamos um caminho escuro como breu pois a Lua Cheia já se tinha escondido por trás daquele monte.
Damos de caras com as Fontes Pequenas rodeadas de instalações apetecíveis, mas no Verão.
Não ouvi o coachar das rãs, nem o cantar do galo, senti apenas a humidade própria da manhã nos sítios frescos, em que a água brotando das pedras, alumiada pelas lamparinas a pilhas que alguns teimam em levar, entoa cânticos serenos saudando gente tão madrugadora.
Hoje somos muito mais. Não reconheço algumas vozes e o movimento cadenciado da multidão transmite silêncios que avolumam o mistério.
Percorremos algumas centenas de metros no meio do matorral e alguém pede silêncio. Estamos aqui para ouvir o chamamento das aves nocturnas, utilizando para tal um armadilha hábil. O Bufo Real em vias de extinção não respondeu à chamada. Apenas algum mocho "vulgaris" mais atrevido se manifestou. Aves de Portugal . SPEA - Para os que gostam de ouvir chilrear os pássaros ...
Amanhecendo. O sol tenta despontar entre as nuvens lá longe, à nossa frente. Os arbustos escondem ainda a escuridão da noite. As neblinas recolhem aos vales, planando sobre os cursos de água. Uma pequena brisa, sopra.
Os olhos ramelosos recusam-se a perceber o que nos rodeia. Mas ali na nossa frente surgem tisanas, doces, bolos e nectares, como que milagrosamente colocados pelos deuses da abastança.
Pausa para café. O frio aperta. A paisagem que nos rodeia, marcadamente arbustiva, assenta em terrenos calcários, onde as formações cársicas nos mostram formas irregularmente belas.
Chegamos a um pomar de citrinos em que a vedação é constituída por enormes blocos de calcário criando um obstáculo intransponível para os ladrões de laranja.
O piso torna-se muito irregular e está preenchido por pedras pontiagudas que magoam intensamente as solas dos pés.
Chegamos a um terreno de cultivo onde o calor exalado pela terra denuncia húmus em formação. O trilho torna-se mais irregular, mas revela uma beleza extraordinária ladeado por oliveiras, amendoeiras e alfarrobeiras, ancestrais.
Atravessamos uma pequena aldeia e lá ao longe, explicam-nos, está sedeada mais uma iniciativa da Almargem Centro Interpretação Ambiental da Rocha da Pena.
Aqui no Barrocal existem diversas formações geológicas com muito interesse - a Rocha da Pena, a Rocha dos Soidos, o Polje da Nave do Barão, uvalas e lapiás. Porque não a criação de um pólo de geosítios nesta zona, à semelhança dos parques geológicos Naturtejo e Geopark Arouca?
Mais uns quilómetros marchados e entramos em Salir. Tudo por aqui está ligado aos Mouros e à Reconquista desde os topónimos - Benafim, às lendas, às tradições, à agricultura, ao urbanismo.
Deixo-vos "merodeando" pelo Barrocal, um dos meus destinos de eleição.
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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Via Algarviana Day 7 - S. Bartolomeu Messines - Alte Espargos e espargueiras

Já tinha saudades de reencontrar-me com espaços urbanos. Hoje a etapa é mais curta e não sei se é por isso mas vamos sair atrasados. Uma companheira de caminhada está de partida. Perdidos entre cafés, pastelarias, padarias, mercado e supermercados cada um saboreia, cheira, toca, observa o que mais lhe agrada.
O autopullman pára e pergunta pelos passageiros. Por fim a Fernanda afasta-se num turbilhão de acenos.
Um dos produtos de excepção nestas paragens é o pão - que chega da Serra - , e outro os bolos - as costas, o folar, os bolinhos de canela, etc. Também as passas de figo, as amêndoas e a alfarroba. Dos laranjais já vi melhor produto.
Entre cores, aromas e paladares lá seguimos por Via bastante complicada até deixarmos a estrada - aqui a via cruza-se com a autoestrada.
Mas para nossa surpresa, os nossos amigos da Almargem deram um ar da sua graça e conduziram-nos pelo mato, entre alfarrobeiras e amendoeiras até uma ribeira, que claro, tivemos que atravessar.
As margens revelam que o nível de cheia chegou quase dois metros mais acima. As esparregueiras começaram a entreter os passeantes - depois de explicarmos, que no próximo jantar cozinharíamos os aspargus.
Por vereda mal definida caminhado de forma incerta e titubeante rolamos até ao ribeiro. Vamos progredindo até que se torna inevitável transpor este obstáculo. A água ainda é muita, as pedras mostram-se escorregadias e foi um agarra-te onde puderes que animou todos os participantes.
Mais uma subida, mais um lago no caminho, mais um desvio por terrenos de cultivo e ... via impedida e intransponível. Observa aqui, "tantea" acolá e por fim com a ajuda do Alberto, passámos entre arbustos e sem molhar os pés.
Sempre por caminhos ladeados de quintas, começam agora a aparecer imensos pomares de citrinos. Os cães ladram e a caravana lá vai passando e reflexionando sobre o local da merenda.
Os espargos já eram mais que muitos e prometiam um excelente jantar para a vintena de participantes desta etapa.
Fazemos um pequeno desvio e abancamos nunca tasca algarvia onde os mais esfomeados se deliciam com umas bifanas à maneira, acompanhadas por cerveja fresquinha. Trocam-se farnéis, provam-se bolos. Os alentejanos adversos à comida de plástico são os que apresentam melhores iguarias - paio, queijo, pão e bolinhos algarvios.
São horas de levantar âncora e lá vamos atravessando mais estradas e ainda com os enormes viadutos à vista.Os caminhos são antigos e bem bonitos e ainda hoje dão serventia às dezenas de hortas ao nosso redor.
Paramos na velha escola para uma visita a um projecto de desenvolvimento regional apostado no artesanato
inovador usando produtos locais - sementes, folhas, ramos, troncos - Da Torre.
Sempre por caminhos de terra que dão serventia aos jardins de tradição árabe, servidos por poços onde a picota já não trabalha, vamos subindo para Alte.
Ao longo do percurso temos vindo a observar que em terrenos próximos de casas em ruínas se encontram estacionadas roulotes com matrículas estranhas, que dão guarida a habitantes também eles estranhos. Pois aqui estão terminando o seu dia de trabalho dois ou três pedreiros que cimentaram o local onde, imponente, descansa uma caravana. Os séniores de alguns países com muito pouco sol arribam a terras Algarvias para se estabelecer no Inverno, qual aves de arribação que, seguindo desígnios genéticos, se refugiam no sul quando no Norte gela, deslocam-se para os Algarves a troco de algum sol, preços acessíveis e gentes simpáticas e afáveis que os recebem de braços abertos.
Penso que daria uma boa tese o aprofundar das razões e condições que os motivam a procurar o Sul.
Os Algarvios povo das mil invasões e conquistas,efectuadas tanto por terra como por mar, aprenderam a defender-se de estranhos através de uma linguagem foneticamente indecifrável, mas também sabem aproveitar os desígnios da providência que traz gente ávida de praia e sol, em tempos de paz.
Enfim Alte. E apetece-me dizer Alte e pára o baile que já as pernas me fraquejam...
Como não há bela sem senão ... nem Via Algarviana sem Jantar, lá fomos para mais uma noite de confecção.
Os espargos não ficaram à minha espera. Ainda os vi, quase não os cheirei, posso dizer que estavam ali esparramados pelas travessas e pratos,embrenhados de ovos amarelos, apetitosos, verdosos, angustiantemente escassos para o meu desejo incomensurável de saboreá-los. Eh pá! Até pareço o Aquilino a descrever as lautas refeições da Casa Grande de Romarigães. Pois é gosto muito.
Mas felizmente houve alguém , de seu nome Pedro - fica aqui registado , o meu agradecimento -, que cuidadosamente mandou recolher à cozinha uma travessa ... para sete. Sim éramos sete.
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Via Algarviana Day 6 - De Silves a S. Bartolomeu de Messines

Saímos de Silves à hora marcada e após 2 km entrámos na Via. A Via Algarviana, infelizmente, passa ao lado, muito ao lado da cidade de Silves. Ainda estão a tempo de corrigir. Bem sei que haveria que acrescentar mais 2 ou 3 etapas ao percurso total, e aí teríamos mais de duas semanas de caminho. Então façam etapas alternativas.
Bom, então passemos àquele que foi o dia mais penoso para mim. Várias etapas de 30 km e de sobe e desce, mas sobretudo de piso duro e muito alcatrão, e também de muita água nas botas, liquidaram os meus frágeis pés.Assim sendo não me recordo quase nada desta etapa.
O percurso inicia-se ao longo do rio Arade, subindo depois por campos  infindáveis de estevas, desejosas por mostrarem as suas flores intensamente brancas, coroadas apenas por uma mancha vermelha em cada pétala. Ao longe avistamos o Centro de Recuperação do Lince Ibérico. Pares de perdizes aligeiram-nos o esforço e anunciam-nos a Primavera.
Alcançamos um braço da barragem do Arade, que quase de imediato desemboca no paredão da barragem do Funcho. Depois de galgar um desnível considerável atravessamos para a outra margem e por caminho de alcatrão, rodeados de árvores exóticas, atingimos as instalações dos trabalhadores deste complexo, agora praticamente desertas.
Alcançamos, já na subida, um Miradouro devidamente apetrechado com mesas de madeira e paramos para merendar. A simpática colaboradora da Natura abalroa-nos com uma carrinha de apoio, trazendo bolinhos, chá e café. Se não fosse o vento frio e forte que sopra no local teria sido um momento perfeito.
Subimos um pouco mais e chegamos a um caminho de terra batida, que nos vai levar sempre ao longo da albufeira durante um par de horas.
Mais um momento de pausa e entrevistas pois hoje temos cá a TVI. Não sei se correram bem ou mal pois nunca tivemos retorno desses momentos.
O vento fustiga os rostos e está bem visível na ondulação que apresentam as águas deste grande Lago, executado para dar banho aos turistas algarvios.
O caminho afasta-se da barragem e chega a um cruzamento, onde uma placa da Via Algarviana  indica um Turismo Rural - esta é uma boa forma de divulgar os pontos de apoio e também os pontos de interesse.
Os pontos de apoio nestas etapas de 30 km são muito, muito raros. Uma forma de ter o apoio das populações neste tipo de actividades é promover o intercâmbio.
Alguém pede para pararmos, mas os elementos do grupo já muito dispersos, não lhe dão ouvidos - o que interessa é chegar.
Começas a ver as primeiras quintas dispersas, mas sinal de Messines, nem vê-lo.
Ouço vozes e gritos numa encosta próxima e, curioso, tento perceber o que procura aquela gente entre as estevas num campo de escassos sobreiros - alguns com aspecto de que o fogo por ali lavrou - . Seriam cantarelos? Ou seriam pútegas (cytinus)? Não descobri, mas confesso que tenho saudade de comer umas boas pútegas.
Pronto, já estamos alcatroados, e os meus pés não aguentam nem mais um metro. 
Por fim, lá do alto, avistamos São Bartolomeu de Messines, terra famosa desde o tempo da guerra civil entre miguelistas e liberais, onde a figura do Remexido, teve especial relevo.
Felizmente o caminho sai à esquerda por um carreiro antigo que dá acesso a casas e pomares. A lama e os charcos incomodam os nossos passos, mas a paisagem verdejante, as oliveiras centenárias, os laranjais em flor, transformam os últimos metros num passeio muito agradável.
À noite lá fomos jantar, está claro, ao Remexido.  O galo com grão estava delicioso e o local recomenda-se. Via Algarvina                                     VER FOTOS 

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Via Algarviana Day 5 - Da Picota a Silves - Montanha Russa - 33 Km e muita água

Saímos por uma ruela em direcção à ribeira, para logo começarmos a subir interminavelmente.
Realmente a vegetação que vamos cruzando apresenta-se magnífica e não faltam aqui castanheiros, sobreiros oliveiras. O nosso companheiro Mário segreda-nos que vamos atravessar por um carreiro secreto.
Secreto não sei se era mas os sobreiros centenários justificaram plenamente este desvio.
Deixamos as últimas casa e vamos em direcção ao maciço granítico com grandes moles de rocha à superfície. Aqui chamam-se sienitos e parecem ser únicos no País e raros no mundo.
Depois de um amanhecer com céu limpo e o sol a inundar todo o vale, o nevoeiro começa a cobrir a a Picota e vai apanhar quase todos desprevenidos. Nem impermeáveis, nem calçado adequado.
Após as fotos da prache a 770 metros de altitude, começa a chover copiosamente.
Por carreiros improvisados descemos como podemos até um terreiro que dá passagem a um caminho alcatroado. Sempre descendo por alcatrão perdemos a noção de onde estamos e passamos uma boa hora sempre a descer até encontrarmos um pequeno telheiro onde nos abrigamos da intempérie e recompomos as roupas, completamente encharcadas, como podemos.
Daqui passamos para caminhos de terra que vão bordeando uma ribeira. Primeiro obstáculo, ribeiro cheia, e ou nos descalçamos ou encharcamos - ainda mais, as botas, apesar das poldras improvisadas rapidamente construídas.
Lembro-me de caminhar subindo e descendo por mais um par de horas e sempre debaixo de chuva, por terrenos repletos de xaras e pouco mais.A água era tanta que pensámos desistir.
Alcançámos a estrada junto à ribeira de Odelouca e parámos para merendar sob um sol esplêndido.
Estendidos no alcatrão enxugamos o melhor que podemos a roupinha que levamos e animados pelo bom tempo, afinal a serra ficou para trás, quase todos reiniciamos o caminho - estamos mais ou menos a meio da etapa.
Atravessamos a ribeira por uma ponte acabada de estrear. Ainda no ano passado se passava aqui a vau. Com tanta água teria sido a nado.
Deixámos os laranjais que povoam as margens da ribeira de Odelouca e após as últimas casas vamos contornando a linha de água até começarmos a subir por um caminho muito empinado.
Aqui a maior curiosidade consiste num sistema de semáforos que avisam da subida iminente das águas. Felizmente nada aconteceu naquela meia hora em que o grupo passou.
Nestes troços muito longos e duros o grupo com cerca de 30 participantes vai-se dividindo em pequenos grupos de 3 ou 4 pessoas, e apenas a tagarelice distrai os caminheiros de tão longa e dura etapa.
Aqui fala-se inglês, ali charla-se em castelhano, além trauteia-se em holandês e as horas vão passando conhecendo as vidas e as vicissitudes de cada um. Maravilhoso grupo este tão multifacetado e rico de experiências. As idades distribuem-se dos vinte e poucos aos sessenta e muitos, as nacionalidades, além dos alentejanos e algarvios, vão dos espanhóis (andaluces en su maioría) , aos israelitas, passando por ingleses, alemães, austríacos e holandeses.Também temos alguns lisboetas que se dizem Portugueses, e o par do Porto a quem ainda não ouvi dizer carago.Tudo gente boa e de bem como convém.
O amigo Mário, que teima em transportar numa padiola improvisada, uma víbora cornuda (rara), que encontrou meio apardalada pelo rodado de algum ciclista, avisa: - Daqui é o último local donde se avista a Picota. E lá seguimos contornando mais um conjunto de casas meio habitadas.
Descemos mais uma vez e lá vamos contando com mais quatro horas de caminho. No final serão mais.
A sinalização de um PR que aqui coincide com a Grande Via confunde alguns que seguem por um caminho errado. Mas há sempre alguém preocupado com os demais e lá correr em auxílio dos distraídos.
Juntamos-nos uns oito ou dez e seguimos por campos intermináveis de estevas e eucaliptos.
Mais uma colina e mais uma ribeira à vista. Interpelamos um guarda da caça que anda a distribuir milho e amêndoa pelos comedouros, pensamos que para a caça ao javali, que nos informa que devemos seguir à esquera após o rio, pela estrada alcantroada. Mas os indicadores informam-nos que o caminho à pela direita. E afinal aquela horita que falta para chegar a Silves transforma-se em mais de duas.
Atravessamos a ribeira de qualquer maneira. Que importa, o cansaço já nos domina a razão, e encharcamos completamente os pés. O grupo que nos precedeu teve mais sorte pois passou na carrinha de caixa aberta do guardador de perdizes e javalis.
Um lago, onde supostamente os patos e as galinhas de água se esconderam, confundem-nos, mas lá nos encaminhamos para um percurso de obstáculos. Sem dúvida esta gente da Almargem pensa em tudo, até nem estamos nada cansados.Saltando entre troncos de eucalipto alcançamos mais um alto e vislumbramos à nossa frente nova montanha russa. Será assim até ao fim. Ora avistamos as muralhas do castelo de Silves, ora não avistamos, ora avistamos, ora não avistamos. No final ainda e sempre mais uma ribeira. E quem é que se importa, de encharcados já não passamos.
O percurso termina na carreteira alcatroada e um painel anuncia que estamos ali e que a próxima etapa são mais ...trinta. Mas qual quê, então não é que até ao alojamento ainda faltam quase três quilómetros.
Arribamos a Silves ao escurecer. Após banhos reconfortantes lá vamos de novo ao melhor castigo do dia. desta vez foi massada de peixe, óptima. E amanhã logo se verá.
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quinta-feira, 15 de abril de 2010

Via Algarviana Day 4 - Subindo até à Fóia 902 metros

Deixamos Marmelete subindo por um caminho à nossa esquerda. A mata de eucaliptos vai-nos acompanhar quase toda a viagem pela Serra de Monchique. Aqui e ali despontam alguns medronheiros anunciando que estamos em terras de destilarias.
Hoje vamos ser guiados pelo nosso companheiro Refóias dot net, de seu nome de pia Mário, que nos desencaminhará por sítios só por ele conhecidos, não fosse ele homem nado e crescido nestas paragens.
Assim fazemos, quase no início, um desvio até um penhasco à nossa direita onde estão instaladas algumas antenas para apreciarmos o local donde se avista a costa Sul e a costa Norte (efectivamente esta apresenta-se a oeste, para os lados de Aljezur, mas a população conhece-a por Costa Norte, talvez pela turbulência marinha que aí se faz sentir...).
Após uma pequena pausa continuamos a calcorrear o caminho de terra em direcção ao cume. Ultrapassamos quintas abandonadas com os seus terrenos engolidos pelas silvas onde se vêm, também, algumas instalações pecuárias em ruínas que nos indicam estarmos em terras afamadas pela charcutaria de porco preto.
O terreno, virado a norte, é agora composto por vegetação rasteira - tôjo, urze, carqueja. O vento sopra forte alimentando as enormes pás desses moinhos modernos que apenas produzem electricidade em "pó" e cujos moleiros estão agora comodamente sentados a milhares de km de distância - comentam que, na Alemanha -
em frente a consolas e ecrans gigantes com a última versão da "Guerra das Estrelas".
Mais um momento de descanso para aliviar as mochilas. Viram-se as costas ao vento e cavaqueia-se em várias línguas. O nosso grupo é multi-étnico e multi-cultural.
O nosso parente Refóias desafia-nos para mais um desvio, este com um par de quilómetros, para descermos à cachoeira. E lá vamos, encosta abaixo, apreciando os campos em socalcos e as ruínas de uma ou outra casa onde outrora a pastorícia era a actividade principal. Hoje ainda se vêm algumas cabras de raça Algarvia, mas em geral os lameiros apresentam-se desertos.
Com a cascata já à vista - este ano impressionante depois de três meses de chuva - dispersamo-nos pela encosta aproveitando enormes blocos de pedra trabalhada, aqui colocados para desfrute da paisagem, para improvisar mesas e bancos e dar-mos início a mais um momento lúdico à volta dos chouriços, queijos, pão, bolos (costas, de mel, etc.) e também das barritas energéticas, sumos, e sanduíches vegetarianas. Enfim, um delicioso banquete à sombra dos chaparros e azinheiras, com a cascata em fundo, num sítio paradisíaco que bem merece o desvio de quem percorre a Algarviana.
Daqui à Fóia é um passinho - diz alguém . Será? Interroga-se outro. 
Depois de retomarmos a via sinalizada apreciamos os socalcos verdejantes e ainda cuidados onde a água que brota das rochas se espraia e se some.
As antenas de comunicações que um dia nos avisarão da chegada dos mouros coroam todo o pico da fóia.
Mais prados, um souto imenso com castanheiros centenários, uma charca, lembram como seria a serra à duzentos anos.
Tomamos um carreiro ultrapassando um portal muito original na vedação - abre na vertical, com o seu eixo sobre as nossas cabeças - e ao subir vamos tentando evitar os inúmeros charcos onde se atascam as nossa botas velhas e cansadas.
Mais um momento de reflexão. Alguns dormitam, outras sobem aos penhascos, outros movidos pela concupiscência de aparecer na reportagem aprestam-se a oferecer-se para dar entrevistas. Sim senhor hoje veio visitar-nos uma qualquer TV online.
Umas "takes" depois, lá vamos, ainda assustados pelo ataque de carraças - em zonas onde apascenta muito gado são frequentes e à que ter , cuidado - seguindo os maus caminhos da Serra até ao alcatrão que nos leva a Monchique.
Mais um desvio e iniciamos a descida para o Mosteiro de Monchique. Aqui além das ruínas do edifício e de toda a história que as envolvem, a relevância vais para um conjunto de árvores de porte centenário - sobretudo sobreiros - que mereciam ser classificadas tal como já o são os plátanos, a araucária, a magnólia e um carvalho que se distribuem por vários locais de Monchique.
Entramos nesta bonita vila da Serra Algarvia por ruelas ricamente engalanadas e constata-mos os cuidados postos na recuperação de todo o seu centro histórico. Dos seus monumentos ressalta a Igreja da Misericórdia com um lindo pórtico manuelino.
 À noite aguardava-nos um repasto confeccionado com porco preto - o cachaço assado no forno. Delicioso, e como que a avisar-nos que a Via Algarviana é muito mais que património natural.
Ainda tivemos tempo para uma visita a uma olaria tradicional e deixámos a promessa de voltar para visitar a destilaria de medronho e melosa - bebida á base de mel e aguardente de medronho com produçãio certificada apenas nesta zona.
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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Via Algarviana Day 3 - A caminho de Marmelete

Junto ao "Clube" de Bensafrim esperámos tempos infinitos. Minutos, horas! que mais tarde seriam preciosos para terminar esta curta etapa. Fomos avançando ao longo da linha de água e logo nos deparámos com os primeiros obstáculos que nos iriam apoquentar nos próximos dias - as ribeiras.
Descalçando botas, improvisando pontes e poldras, aguçando o engenho, fomos passando.
Num pequeno troço a enchente levou o piso e as marcas do percurso. Uma via que percorre 300 km necessita de um esforço gigante na sua manutenção.
À nossa frente abre-se uma clareira de alguns hectares plantada de videiras, para nossa estupefacção. Aqui tão perto da costa e numa zona árida quase até ao leito das ribeiras amadurecem uvas que depois serão transformadas em néctares na Cooperativa de Lagoa, ao que soubemos.
Subimos por caminho de terra até encontrarmos a estrada alcatroada que nos vai perseguir por dois ou três quilómetros. 
Mais um ribeiro e entre os arbustos descobre-se o que se supõe ser uma pegada de lontra.O percurso, nesta fase, decorre quase sempre junto a linhas de água. Parámos para a merenda junto a um pequeno regato onde o cantarolar da torrente encantou os multifacetados participantes deste trajecto, e onde um teimoso rouxinol(?) se escondeu das objectivas dos fotógrafos de serviço.
Estirados sobre a erva macia e fresca atenuámos o cansaço provocado por um dia de intenso calor.
Contornamos a barragem e ainda e sempre por alcatrão alcançamos a bendita venda (taberna) que decora um pequeno conjunto de habitações e nos brinda com uma profusão de loiras e "stout's" acompanhadas por alcagoitas e tremoços.
Um velho, muito velho, pele e osso, acompanhado por uma profusa enxada adornada por um cabo de tronco de arbusto recentemente cortado e torneado, junta-se ao grupo, e, num ápice, engole literalmente a cerveja que lhe oferecemos. Alguém conhecido interpela o nosso companheiro: - Então, ti manel,  hoje não bebe o habitual galão. Pois não, hoje era dia de festa, pois muito raramente se juntarão neste local umas três dezenas de estranhos ávidos de tagarelice. O jovem setentão ergue-se e presenteia-nos ainda com um par de números circenses com o seu cão amestrado, antes de se retirar em direcção ao seu palmo de terra, junto à ribeira,  apressurado em
estrear a sua renovada alfaia.
Voltando ao caminho ladeado por pequenas hortas e pomares à nossa direita já avistamos o alto do próximo monte que nos espera.
Tomamos um caminho empinado, cada vez mais empinado, entre estevas e logo eucaliptos.
O Sol que teima em esconder-se entre  as nuvens e os picos da serra de Espinhaço de Cão abandona-nos definitivamente. 
Entre escuros e as alvas paredes das casas percorremos Àfrica - bairro ancestral de Marmelete, vá-se lá saber porquê, e arribamos ao centro da vila.
Hoje a história não acaba aqui. Os momentos mais altos deste caminhar pela Via Algarvina ocorrem durante os jantares, onde, além do convívio de proximidade, nos presenteiam com iguarias únicas e quase por nós esquecidas. Esta noite foi o galo de cabidela com batata doce que nos deliciou.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Via Algarviana Day 2 - Bispo, Barões e Bensafrim sem neutralização

Apesar de tudo foram umas dezenas de simpáticos pedestrianistas que partiram em busca da mata do Barão de S. João mas com a perspectiva de não andarem 26 km. Claro que foram enganados, ou pelo menos mal informados.
Partiram do largo da bonita Igreja de Vila do Bispo, subiram, desceram, e chegaram à 1.ª paragem junto à Capela da Virgem de Guadalupe uns 70 creio eu.
Pensei e logo encontrei a virgem de Guadalupe nas minhas recordações, enquanto ia recolectando alguns espargos, que tive a amabilidade de ir apresentando aos nossos amigos estrangeiros. A virgem de Guadalupe, santa milagreira de Fuenterrabia (Hondarribia) no país Basco, ali pertinho da fronteira francesa. Aconteceu que certo dia 7 de Setembro, estavam os castelhanos cercados pelas tropas francesas na cidade de Hondarribia, quando em plena batalha lhes apareceu a Virgem, que, dando-lhes ânimo e forças para combater, derrotaram os Franciús, libertando tão linda cidade medieval.
Subindo por caminho bem demarcado chegámos ao planalto e continuámos sem qualquer desnível por entre eucaliptais, pinhais e matorrais, aplastados, aqui e ali, pelas grandiosas eólicas, até desembocar-mos numa preciosa lagoa - a lagoa de Budens. Cheínha e a rebentar de água por todos os lados, mas não vi os anátidas...
O descanso merecido atou-nos os passos e uma simpática Rela veio visitar as nossas mochilas.
Os cansados, deserdados da neutralização esperada, começaram a protestar.
Mais uns quilómetros adiante volta a paisagem serrana de outrora - sobreiros e estevas, e tolhe os nossos em mais um cruzamento no caminho. - É por aqui? É por ali? O quê ainda faltam 14 km, e a neutralização?
Malditos GPS sempre a desmascarar-nos. Alguém disse que os GPS são máquinas e que como tal não devem ser usados sem um bom mapa, uma bússola e de preferência um bom guia?
Iludidos pelas rectilíneas do GPS lá seguiram, só que o percurso foi redondeando uma colina, outra colina, e o que parecia perto rapidamente ficou mais longe.
Descansámos num bonito descampado com flores despontando à nossa volta, mas as merendas de todos não foram suficientes para atenuar o desespero de uns poucos.
Ao segundo dia começo a confirmar que esta Via não é romana e nem todos os sinais nos levam no bom caminho. Alguns cidadãos despreocupados arrancam e destroem as indicações e arrasam a nossa paciência.
Descemos por caminho de pedra muito solta, após termos encontrado o trilho, e dirigimos-nos a uma pequena quinta ou corte, talvez turismo rural, onde não podemos saciar a nossa sede, mas onde alguém se oferece para transportar os mais doridos até Barão de S. João.
Após uma subida suave entramos nos limites da Mata Nacional de Barão de S. João e não sei se me alegre ou fique triste, pois hoje comemora-se o Dia Mundial da Floresta. Nos anos 50 e 60 surgiram muitas matas reflorestadas com resinosas e outras espécies não autóctones, mas as florestas estão lá, e agora também umas dezenas de "Wind power engines".
Atravessamos a mata por caminho que mais parece uma ribeira seca, tal o número de pedras roliças que vamos pontapeando, e chegamos rapidamente ao fim da primeira etapa deste dia com 26 km palmilhados.
Pelas ruelas estreitas o grupo vai-se dispersando e desaparecendo nas ombreiras das inúmeras "capelinhas" que animam este lugar.
Ei-los que partem cansados e lastimosos, os deserdados da neutralização. Mas bem aventurados pelo banquete que os espera em Bensafrim.
Nós, um punhado de resistentes que irá calcorrear a via ao longo de 14 dias, juntamo-nos à volta de uma esplanada de tasquinha, onde confraternizam muitos locais.
Um homem barbudo aproxima-se de uma motoreta de três rodas e saca do seu interior uma ceira, enquanto os dois amigos que ficaram sentados exclamam: - É o raio azul. A caminho do bar, uma espreitadela ao interior do recipiente revela uma colheita farta de mexilhões.
Por entre conversas decidimos continuar caminho, levantando-nos, mas o homem de à pouco corre na nossa direcção e interpela: - Então? Agora que os mexilhões estão quase prontos, estão de abalada.
Seguro de muitos outros momentos em que quando o amigo se prepara para ausentar da mesa logo outro oferece mais uma bebida na certeza da sua recusa, afasto-me lentamente. Nisto, cai um prato de fumegantes mexilhões sobre a mesa e vocifera o barbudo: - Olhem que estes são da costa Norte. E eram, e estavam deliciosos. A via Algarviana prometia.
Após esta simpática aldeia cruzamos a estrada e embrenhamo-nos num caminho rodeado de hortas abandonadas onde despontam alfarrobeiras, amendoeiras e oliveiras. O caminho de terra batida estende-se por um denso e ancestral sobreiral. Um cão seguido de um cavalo montado por uma amazona doutras terras cruza o caminho.
Continuamos em direcção a Bensafrim, agora à velocidade do vento, pois alguém esqueceu os seus compromissos e pensa recuperar a passo o que perdeu nuns momentos lúdicos e de merecido descanso num banco de jardim, lá atrás, naquela bonita terra.
Sucedem-se casas, quintais e campos incultos onde brotam espargueiras, à medida que nos aproximamos de Bensafrim. Um ribeiro ladeado de campos de cultivo, agora bem cuidados, acompanha-nos até ao casario da aldeia. Dirigimo-nos à sede do Grupo Desportivo local onde vamos pernoitar, após 30 e picos quilómetros percorridos.
Via Algarvina       FOTOS

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Via Algarviana Day 1 - Limpar Portugal e vida de caracol

Dia chuvoso e cinzento. Não fossem os alcantilados que bordeiam a costa entre Sagres e o Cabo de S. Vicente, o apetite para mais um passeio ter-se-ia esbatido, logo ali, contra os muros da fortaleza.
De saco na mão e com a vista apurada, saltando de arbusto em arbusto, lá enchemos uns quantos sacos negros de dejectos deixados por mãos e consciências menos limpas.
Nunca tinha pensado, ou querido pensar, que os pescadores e os turistas vestem a mesma camisola nesta acção de conspurcar a paisagem de todos.
Lá seguimos alcatrão fora - um proprietário de espaços que deviam ser de todos nós, assim o ditou - virando as costas ao azul do mar em direcção a norte.
Um pastor, ovelhas, um cão com vida de apenas cão. No horizonte cinzento algumas aves se agitam e os nossos anfitriões aponta-nos telescópicamente para perscrutar tal fenómeno.
Cruzámo-nos com um viajante inusitado - suponho que a ponto de terminar a Via! Ou estará a iniciá-la? - que com a sua casa ás costas, mais parecia levar velocidade de caracol.
Numa clareira, já por caminhos de terra, ordens para dispersar - A merenda pesa e há que aliviar a mochila.
Mas num fenómeno Einsteiniano a expansão deu lugar, quase de imediato, à contracção à volta de um furgoneta da Natura que se aproximava transportando consigo compotas, sumos, águas, bolos, bolachas e algo mais.
A caminho de Vila do Bispo, no sobe e desce de suaves colinas, não recordo o passar das horas entretido que estive a entabular os primeiros contactos com um grupo tão cosmopolita.
No fim, e porque recolher lixo tem agradecimento formal, as bifanas e as loiras esperavam por nós.
http://www.viaalgarviana.org   VER FOTOS 

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Via Algarviana - An experience like no other 3.ª Travessia

A partir de hoje vou deixar aqui as minhas impressões - BIOTXUBIOTXU (Otros Coleccionismos - Pins) sobre 10 dias loucos, atravessando as serranias e os barrocais algarvios desde o Cabo de S. Vicente a Cachopo. Outros houve, poucos, que chegaram a terras de Alcoutim. 
Primeiro este poema introdutório:

Sobre a via Algarviana

Andei, andei ,andei,
Não sei quanto andei!
Perdi a noção do dia,
Perdi a noção da hora
Andei, andei, andei
Tanto que nem eu sei!
Encontrei a noção de ajuda
Encontrei a noção de convívio
Andei, andei, andei
Até que por fim me cansei
Mas construí a essência da amizade
E quase , quase, rocei a eternidade!



Traduz um estado de alma, um sentimento, ou apenas um momento fugaz de sensações que perdurarão para sempre ...


A seguir deixo-vos um par de imagens através deste LINK:


http://picasaweb.google.pt/moura.antunes/Via_Algarviana#

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