quinta-feira, 22 de abril de 2010

Via Algarviana Day 7 - S. Bartolomeu Messines - Alte Espargos e espargueiras

Já tinha saudades de reencontrar-me com espaços urbanos. Hoje a etapa é mais curta e não sei se é por isso mas vamos sair atrasados. Uma companheira de caminhada está de partida. Perdidos entre cafés, pastelarias, padarias, mercado e supermercados cada um saboreia, cheira, toca, observa o que mais lhe agrada.
O autopullman pára e pergunta pelos passageiros. Por fim a Fernanda afasta-se num turbilhão de acenos.
Um dos produtos de excepção nestas paragens é o pão - que chega da Serra - , e outro os bolos - as costas, o folar, os bolinhos de canela, etc. Também as passas de figo, as amêndoas e a alfarroba. Dos laranjais já vi melhor produto.
Entre cores, aromas e paladares lá seguimos por Via bastante complicada até deixarmos a estrada - aqui a via cruza-se com a autoestrada.
Mas para nossa surpresa, os nossos amigos da Almargem deram um ar da sua graça e conduziram-nos pelo mato, entre alfarrobeiras e amendoeiras até uma ribeira, que claro, tivemos que atravessar.
As margens revelam que o nível de cheia chegou quase dois metros mais acima. As esparregueiras começaram a entreter os passeantes - depois de explicarmos, que no próximo jantar cozinharíamos os aspargus.
Por vereda mal definida caminhado de forma incerta e titubeante rolamos até ao ribeiro. Vamos progredindo até que se torna inevitável transpor este obstáculo. A água ainda é muita, as pedras mostram-se escorregadias e foi um agarra-te onde puderes que animou todos os participantes.
Mais uma subida, mais um lago no caminho, mais um desvio por terrenos de cultivo e ... via impedida e intransponível. Observa aqui, "tantea" acolá e por fim com a ajuda do Alberto, passámos entre arbustos e sem molhar os pés.
Sempre por caminhos ladeados de quintas, começam agora a aparecer imensos pomares de citrinos. Os cães ladram e a caravana lá vai passando e reflexionando sobre o local da merenda.
Os espargos já eram mais que muitos e prometiam um excelente jantar para a vintena de participantes desta etapa.
Fazemos um pequeno desvio e abancamos nunca tasca algarvia onde os mais esfomeados se deliciam com umas bifanas à maneira, acompanhadas por cerveja fresquinha. Trocam-se farnéis, provam-se bolos. Os alentejanos adversos à comida de plástico são os que apresentam melhores iguarias - paio, queijo, pão e bolinhos algarvios.
São horas de levantar âncora e lá vamos atravessando mais estradas e ainda com os enormes viadutos à vista.Os caminhos são antigos e bem bonitos e ainda hoje dão serventia às dezenas de hortas ao nosso redor.
Paramos na velha escola para uma visita a um projecto de desenvolvimento regional apostado no artesanato
inovador usando produtos locais - sementes, folhas, ramos, troncos - Da Torre.
Sempre por caminhos de terra que dão serventia aos jardins de tradição árabe, servidos por poços onde a picota já não trabalha, vamos subindo para Alte.
Ao longo do percurso temos vindo a observar que em terrenos próximos de casas em ruínas se encontram estacionadas roulotes com matrículas estranhas, que dão guarida a habitantes também eles estranhos. Pois aqui estão terminando o seu dia de trabalho dois ou três pedreiros que cimentaram o local onde, imponente, descansa uma caravana. Os séniores de alguns países com muito pouco sol arribam a terras Algarvias para se estabelecer no Inverno, qual aves de arribação que, seguindo desígnios genéticos, se refugiam no sul quando no Norte gela, deslocam-se para os Algarves a troco de algum sol, preços acessíveis e gentes simpáticas e afáveis que os recebem de braços abertos.
Penso que daria uma boa tese o aprofundar das razões e condições que os motivam a procurar o Sul.
Os Algarvios povo das mil invasões e conquistas,efectuadas tanto por terra como por mar, aprenderam a defender-se de estranhos através de uma linguagem foneticamente indecifrável, mas também sabem aproveitar os desígnios da providência que traz gente ávida de praia e sol, em tempos de paz.
Enfim Alte. E apetece-me dizer Alte e pára o baile que já as pernas me fraquejam...
Como não há bela sem senão ... nem Via Algarviana sem Jantar, lá fomos para mais uma noite de confecção.
Os espargos não ficaram à minha espera. Ainda os vi, quase não os cheirei, posso dizer que estavam ali esparramados pelas travessas e pratos,embrenhados de ovos amarelos, apetitosos, verdosos, angustiantemente escassos para o meu desejo incomensurável de saboreá-los. Eh pá! Até pareço o Aquilino a descrever as lautas refeições da Casa Grande de Romarigães. Pois é gosto muito.
Mas felizmente houve alguém , de seu nome Pedro - fica aqui registado , o meu agradecimento -, que cuidadosamente mandou recolher à cozinha uma travessa ... para sete. Sim éramos sete.
Via Algarvina                                     VER FOTOS 

2 Comments:

Blogger tigusto said...

Excesso de campo tem desses efeitos colaterais que se revelaram nesses sintomas de privação da "grande cidade"!
Mas resististe, talvez impulsionado por super espargos quase desaparecidos. Obrigado Pedro por salvares esta alma! :-)

segunda-feira, abril 26, 2010 11:19:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Só para referir que foi uma gentil moça que pediu ao "Pedro" para guardar espargos para os que faltavam...pena foi que essa simpática rapariga não sbaia que existia apenas uma travessa na cozinha...

quinta-feira, abril 29, 2010 4:05:00 da tarde  

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