terça-feira, 13 de abril de 2010

Via Algarviana Day 2 - Bispo, Barões e Bensafrim sem neutralização

Apesar de tudo foram umas dezenas de simpáticos pedestrianistas que partiram em busca da mata do Barão de S. João mas com a perspectiva de não andarem 26 km. Claro que foram enganados, ou pelo menos mal informados.
Partiram do largo da bonita Igreja de Vila do Bispo, subiram, desceram, e chegaram à 1.ª paragem junto à Capela da Virgem de Guadalupe uns 70 creio eu.
Pensei e logo encontrei a virgem de Guadalupe nas minhas recordações, enquanto ia recolectando alguns espargos, que tive a amabilidade de ir apresentando aos nossos amigos estrangeiros. A virgem de Guadalupe, santa milagreira de Fuenterrabia (Hondarribia) no país Basco, ali pertinho da fronteira francesa. Aconteceu que certo dia 7 de Setembro, estavam os castelhanos cercados pelas tropas francesas na cidade de Hondarribia, quando em plena batalha lhes apareceu a Virgem, que, dando-lhes ânimo e forças para combater, derrotaram os Franciús, libertando tão linda cidade medieval.
Subindo por caminho bem demarcado chegámos ao planalto e continuámos sem qualquer desnível por entre eucaliptais, pinhais e matorrais, aplastados, aqui e ali, pelas grandiosas eólicas, até desembocar-mos numa preciosa lagoa - a lagoa de Budens. Cheínha e a rebentar de água por todos os lados, mas não vi os anátidas...
O descanso merecido atou-nos os passos e uma simpática Rela veio visitar as nossas mochilas.
Os cansados, deserdados da neutralização esperada, começaram a protestar.
Mais uns quilómetros adiante volta a paisagem serrana de outrora - sobreiros e estevas, e tolhe os nossos em mais um cruzamento no caminho. - É por aqui? É por ali? O quê ainda faltam 14 km, e a neutralização?
Malditos GPS sempre a desmascarar-nos. Alguém disse que os GPS são máquinas e que como tal não devem ser usados sem um bom mapa, uma bússola e de preferência um bom guia?
Iludidos pelas rectilíneas do GPS lá seguiram, só que o percurso foi redondeando uma colina, outra colina, e o que parecia perto rapidamente ficou mais longe.
Descansámos num bonito descampado com flores despontando à nossa volta, mas as merendas de todos não foram suficientes para atenuar o desespero de uns poucos.
Ao segundo dia começo a confirmar que esta Via não é romana e nem todos os sinais nos levam no bom caminho. Alguns cidadãos despreocupados arrancam e destroem as indicações e arrasam a nossa paciência.
Descemos por caminho de pedra muito solta, após termos encontrado o trilho, e dirigimos-nos a uma pequena quinta ou corte, talvez turismo rural, onde não podemos saciar a nossa sede, mas onde alguém se oferece para transportar os mais doridos até Barão de S. João.
Após uma subida suave entramos nos limites da Mata Nacional de Barão de S. João e não sei se me alegre ou fique triste, pois hoje comemora-se o Dia Mundial da Floresta. Nos anos 50 e 60 surgiram muitas matas reflorestadas com resinosas e outras espécies não autóctones, mas as florestas estão lá, e agora também umas dezenas de "Wind power engines".
Atravessamos a mata por caminho que mais parece uma ribeira seca, tal o número de pedras roliças que vamos pontapeando, e chegamos rapidamente ao fim da primeira etapa deste dia com 26 km palmilhados.
Pelas ruelas estreitas o grupo vai-se dispersando e desaparecendo nas ombreiras das inúmeras "capelinhas" que animam este lugar.
Ei-los que partem cansados e lastimosos, os deserdados da neutralização. Mas bem aventurados pelo banquete que os espera em Bensafrim.
Nós, um punhado de resistentes que irá calcorrear a via ao longo de 14 dias, juntamo-nos à volta de uma esplanada de tasquinha, onde confraternizam muitos locais.
Um homem barbudo aproxima-se de uma motoreta de três rodas e saca do seu interior uma ceira, enquanto os dois amigos que ficaram sentados exclamam: - É o raio azul. A caminho do bar, uma espreitadela ao interior do recipiente revela uma colheita farta de mexilhões.
Por entre conversas decidimos continuar caminho, levantando-nos, mas o homem de à pouco corre na nossa direcção e interpela: - Então? Agora que os mexilhões estão quase prontos, estão de abalada.
Seguro de muitos outros momentos em que quando o amigo se prepara para ausentar da mesa logo outro oferece mais uma bebida na certeza da sua recusa, afasto-me lentamente. Nisto, cai um prato de fumegantes mexilhões sobre a mesa e vocifera o barbudo: - Olhem que estes são da costa Norte. E eram, e estavam deliciosos. A via Algarviana prometia.
Após esta simpática aldeia cruzamos a estrada e embrenhamo-nos num caminho rodeado de hortas abandonadas onde despontam alfarrobeiras, amendoeiras e oliveiras. O caminho de terra batida estende-se por um denso e ancestral sobreiral. Um cão seguido de um cavalo montado por uma amazona doutras terras cruza o caminho.
Continuamos em direcção a Bensafrim, agora à velocidade do vento, pois alguém esqueceu os seus compromissos e pensa recuperar a passo o que perdeu nuns momentos lúdicos e de merecido descanso num banco de jardim, lá atrás, naquela bonita terra.
Sucedem-se casas, quintais e campos incultos onde brotam espargueiras, à medida que nos aproximamos de Bensafrim. Um ribeiro ladeado de campos de cultivo, agora bem cuidados, acompanha-nos até ao casario da aldeia. Dirigimo-nos à sede do Grupo Desportivo local onde vamos pernoitar, após 30 e picos quilómetros percorridos.
Via Algarvina       FOTOS

1 Comments:

Blogger tigusto said...

Em busca da neutralização perdida! Bom, realmente para quem queria apenas fazer uns 14 Km acabou por fazer mais uns 10. Alguns com pouca água e comida. A uns 4 km de Barão de S João valeu-nos uma alma caridosa que ofereceu toda a água engarrafada que tinha e ainda levou de carro 4 pessoas que estavam "nas covas"! Era também uma andarilha, pois então, e tinha acabado de chegar de uma caminhada! O nosso obrigado!

quinta-feira, abril 15, 2010 7:53:00 da tarde  

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