sexta-feira, 16 de abril de 2010

Via Algarviana Day 5 - Da Picota a Silves - Montanha Russa - 33 Km e muita água

Saímos por uma ruela em direcção à ribeira, para logo começarmos a subir interminavelmente.
Realmente a vegetação que vamos cruzando apresenta-se magnífica e não faltam aqui castanheiros, sobreiros oliveiras. O nosso companheiro Mário segreda-nos que vamos atravessar por um carreiro secreto.
Secreto não sei se era mas os sobreiros centenários justificaram plenamente este desvio.
Deixamos as últimas casa e vamos em direcção ao maciço granítico com grandes moles de rocha à superfície. Aqui chamam-se sienitos e parecem ser únicos no País e raros no mundo.
Depois de um amanhecer com céu limpo e o sol a inundar todo o vale, o nevoeiro começa a cobrir a a Picota e vai apanhar quase todos desprevenidos. Nem impermeáveis, nem calçado adequado.
Após as fotos da prache a 770 metros de altitude, começa a chover copiosamente.
Por carreiros improvisados descemos como podemos até um terreiro que dá passagem a um caminho alcatroado. Sempre descendo por alcatrão perdemos a noção de onde estamos e passamos uma boa hora sempre a descer até encontrarmos um pequeno telheiro onde nos abrigamos da intempérie e recompomos as roupas, completamente encharcadas, como podemos.
Daqui passamos para caminhos de terra que vão bordeando uma ribeira. Primeiro obstáculo, ribeiro cheia, e ou nos descalçamos ou encharcamos - ainda mais, as botas, apesar das poldras improvisadas rapidamente construídas.
Lembro-me de caminhar subindo e descendo por mais um par de horas e sempre debaixo de chuva, por terrenos repletos de xaras e pouco mais.A água era tanta que pensámos desistir.
Alcançámos a estrada junto à ribeira de Odelouca e parámos para merendar sob um sol esplêndido.
Estendidos no alcatrão enxugamos o melhor que podemos a roupinha que levamos e animados pelo bom tempo, afinal a serra ficou para trás, quase todos reiniciamos o caminho - estamos mais ou menos a meio da etapa.
Atravessamos a ribeira por uma ponte acabada de estrear. Ainda no ano passado se passava aqui a vau. Com tanta água teria sido a nado.
Deixámos os laranjais que povoam as margens da ribeira de Odelouca e após as últimas casas vamos contornando a linha de água até começarmos a subir por um caminho muito empinado.
Aqui a maior curiosidade consiste num sistema de semáforos que avisam da subida iminente das águas. Felizmente nada aconteceu naquela meia hora em que o grupo passou.
Nestes troços muito longos e duros o grupo com cerca de 30 participantes vai-se dividindo em pequenos grupos de 3 ou 4 pessoas, e apenas a tagarelice distrai os caminheiros de tão longa e dura etapa.
Aqui fala-se inglês, ali charla-se em castelhano, além trauteia-se em holandês e as horas vão passando conhecendo as vidas e as vicissitudes de cada um. Maravilhoso grupo este tão multifacetado e rico de experiências. As idades distribuem-se dos vinte e poucos aos sessenta e muitos, as nacionalidades, além dos alentejanos e algarvios, vão dos espanhóis (andaluces en su maioría) , aos israelitas, passando por ingleses, alemães, austríacos e holandeses.Também temos alguns lisboetas que se dizem Portugueses, e o par do Porto a quem ainda não ouvi dizer carago.Tudo gente boa e de bem como convém.
O amigo Mário, que teima em transportar numa padiola improvisada, uma víbora cornuda (rara), que encontrou meio apardalada pelo rodado de algum ciclista, avisa: - Daqui é o último local donde se avista a Picota. E lá seguimos contornando mais um conjunto de casas meio habitadas.
Descemos mais uma vez e lá vamos contando com mais quatro horas de caminho. No final serão mais.
A sinalização de um PR que aqui coincide com a Grande Via confunde alguns que seguem por um caminho errado. Mas há sempre alguém preocupado com os demais e lá correr em auxílio dos distraídos.
Juntamos-nos uns oito ou dez e seguimos por campos intermináveis de estevas e eucaliptos.
Mais uma colina e mais uma ribeira à vista. Interpelamos um guarda da caça que anda a distribuir milho e amêndoa pelos comedouros, pensamos que para a caça ao javali, que nos informa que devemos seguir à esquera após o rio, pela estrada alcantroada. Mas os indicadores informam-nos que o caminho à pela direita. E afinal aquela horita que falta para chegar a Silves transforma-se em mais de duas.
Atravessamos a ribeira de qualquer maneira. Que importa, o cansaço já nos domina a razão, e encharcamos completamente os pés. O grupo que nos precedeu teve mais sorte pois passou na carrinha de caixa aberta do guardador de perdizes e javalis.
Um lago, onde supostamente os patos e as galinhas de água se esconderam, confundem-nos, mas lá nos encaminhamos para um percurso de obstáculos. Sem dúvida esta gente da Almargem pensa em tudo, até nem estamos nada cansados.Saltando entre troncos de eucalipto alcançamos mais um alto e vislumbramos à nossa frente nova montanha russa. Será assim até ao fim. Ora avistamos as muralhas do castelo de Silves, ora não avistamos, ora avistamos, ora não avistamos. No final ainda e sempre mais uma ribeira. E quem é que se importa, de encharcados já não passamos.
O percurso termina na carreteira alcatroada e um painel anuncia que estamos ali e que a próxima etapa são mais ...trinta. Mas qual quê, então não é que até ao alojamento ainda faltam quase três quilómetros.
Arribamos a Silves ao escurecer. Após banhos reconfortantes lá vamos de novo ao melhor castigo do dia. desta vez foi massada de peixe, óptima. E amanhã logo se verá.
Via Algarvina                                     VER FOTOS 

1 Comments:

Blogger tigusto said...

Ligação a Silves por via fluvial, é o que isto parece! E extras como pistas de obstáculos são um extra a que nem todos têm acesso! Gostei também do "fim" desta etapa... a 3 Km... do fim! Valeu-vos o castigo da massada!

domingo, abril 18, 2010 1:01:00 da tarde  

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