segunda-feira, 26 de abril de 2010

Via Algarviana Day 9 De Salir ao Barranco do Velho

Desta vez os nossos companheiros de travessia adiantaram-se e lá foram saindo sem nós - eu e um outro caminheiro. 
Mas como os meus pés hoje estavam hoje perfeitos voamos sobre a via e uma hora depois apanhamos o grupo de forma surpreendente.
Atravessamos Salir, a da Moura Encantada, subindo até à Igreja. 
Não vimos as muralhas em taipa onde, como consta, se iniciou a última campanha da reconquista e expulsão definitiva dos Almoádas.
Descemos lateralmente à Igreja por um caminho estreito e empedrado para um rua na encosta, continuamos pelas ruelas em direcção nascente até deixarmos as últimas casas.
O caminho e os sendeiros vão atravessando pequenas hortas, onde abundam as oliveiras, algumas vinhas e aqui e ali moradias sem sinal de estarem habitadas.
O terreno apresenta-se muito enlameado, e vamos contornando os charcos. Por fim  desembocamos numa casa, onde uma senhora idosa nos interpela e nos pergunta se andamos perdidos pois o grupo já por ali tinha passado há um bom bocado.
Continuamos a todo o vapor até desembocarmos numa estrada alcatroada duvidosamente sinalizada. Hesitações, centenas de metros para a frente e para trás, e perante a ausência de sinais convincentes e a experiência de muitos quilómetros alcatroados nos trajectos anteriores continuamos estrada fora. Descemos, subimos e, num poste à nossa esquerda, lá aparece a indicação preciosa - estamos no bom caminho.
Hoje o calor aperta e o peso da mochila incomoda - um pão de cabeça, dois sumos, quatro peças de fruta, meio paio alentejano, água - sempre muita água, a inseparável "naifa" multi-usos, a máquina fotográfica, um par de meias secas, lanterna (ficou esquecida no fundo da mochila, desde a nocturna), um polar, e algumas bugigangas mais. Há que aliviar carga.
Chegamos a uma cruzamento em forma de T, e levamos algum tempo até descobrir o caminho a seguir.  Trata-se de um caminho em terra batida, em frente, ligeiramente descaído sobre a direita.
O caminho embrenha-se num bosque fresco e eis que soa o telefone avisando da iminente passagem do carro vassoura. Explicamos que não estamos necessitados de tal ajuda. Mas ainda há outro senão, avisam-nos de que a ribeira que cruza o caminho leva muita água e o grupo contornou-a pela estrada de alcatrão e aconselham-nos a voltar para trás. Nem pensar, ninguém nos vai convencer que uma linha de água da qual não se houve o mais pequeno murmúrio nos vais assustar - depois de umas dezenas de riachos ultrapassados!
Assim é. Vamos descendo e já ouvimos o ruído ameaçador do cascalho empurrado pela corrente. Avistamos uma clareira e ouvimos vozes do outro lado.
Em três passadas certeiras transpomos aquele mar algarvio e deixamos estupefactos os nossos companheiros de viagem que tiveram que andar umas centenas de metros a mais para chegar ali. Não há dúvida, aqueles vodkas com laranja da noite anterior colocaram-nos asas nos pés!
Hoje temos mais companhia. Por ser dia do senhor juntaram-se-nos mais uma dezena de participantes, vindos de todas as paragens - até de Lisboa, e de Èvora, e de Faro, e de Loulé...
Entramos no montado de sobro, que cobre todas as colinas em redor. Entre os sobreiros despontam milhares de estevas repletas de flores brancas. Estamos em plena rota do Chaparro, melhor da Cortiça - iniciativa emblemática promovida pela Câmara Municipal de São Brás de Alportel. Aproveito aqui um interlúdio para vos pedir que 
Salvem o MIGUEL.
Paramos para merendar à sombra destas árvores altaneiras. Improvisamos uns assentos incómodos com as inúmeras lajes de xisto que atapetam o chão. Abrem-se as mochilas e as sacolas e do seu interior saltam para a ribalta - iogurtes, barrinhas energéticas, pães, queijos, sumos ... Mas o êxito vai inteirinho para o chouriço alentejano. 
Recompomos-nos e subimos mais uns metros até ao Moinho encarrapitado no ponto mais alto da colina . A Susana resolve dar umas corridas à volta do mesmo. Ficámos sem saber se estaria desorientada ou apenas a tentar solucionar a  quadratura do círculo para aplicar no Bio- design.
Avistamos uma construção imensa do que parece ser uma Igreja futurista. Ao chegarmos mais próximo confirmamos a vocação do espaço, mas também o carácter maçónico da suas formas. Outras construções a seguem. Mais tarde ficamos a saber que se tratou de um projecto megalómano de um germânico - mania das grandezas!
Quero deixar aqui uma homenagem a um amigo poeta que escrevia letras para Fado, Companhia habitual nas noites do Arreda e mais tarde do Picadeiro, a quem atribuo esta letra que ilustra maravilhosamente a paisagem que atravessámos e que não merece o mau momento por que passa. A nostalgia, o fado, a saudade em palavras lindas engrandecidas pela profundeza da entoação - O Fado do Sobreiro


Fado do Sobreiro
Mesmo ao cimo do montado
No ponto mais elevado
Havia um enorme sobreiro
Que a dar bolota e cortiça
De todos era a cobiça
No montado era o primeiro

Certa noite a tempestade
Fez-se ouvir lá na herdade
O rebombar de um trovão
E no céu uma faixa risca
Quando uma enorme faísca
Fez o sobreiro em carvão

Passaram-se anos e agora
No mesmo sítio lá mora
Um chaparro altaneiro
Mas em noites de luar
Houve-se o montado a chorar
Com saudades do sobreiro

É assim a nossa vida
Constantemente vivida
Sempre e sempre a trabalhar
Mas quando a morte vêm
Nós deixamos sempre alguém
Com saudades a chorar


Cancion del Alcornoque

Alla arriba en el alcornocal
En su punto más alto
Había un enorme alcornoque
Que dando bellota y corcho
De todos era invidia
En el alcornocal era el primero

Una noche de temporal
Se ha hecho escuchar en el cortijo
El tronar de un trueno
Y en el cielo una raya se dibuja
Una enorme chispa
Hace el alcornoque carbon

Se han pasado los años, y ahora
En el mismo sitio vive
Un "chaparro" imponente
Pero en noches de luna llena
Se escucha el alcornocal llorando
Con nostalgia del alcornoque

Es así nuestra vida
Constantemente vivida
Siempre, siempre trabajando
Pero cuando la muerte llega
Dejamos siempre a alguien
Con "saudades" llorando
Via Algarvina                                     VER FOTOS 

2 Comments:

Blogger tigusto said...

Grande gás levavam hoje!!! Apesar de tudo parece-me que ainda há muito trabalho a fazer na marcação do percurso. Quanto ao Miguel... acabei de fazer a minha parte. Um tinto de Portalegre, o 600!
Vivó Miguel!

segunda-feira, abril 26, 2010 11:36:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Houve ainda o grande poeta que proferiu alguns versos no Moinho do Farranhão/Eira de Agosto...a Vodka também deu para a inspiração!

quinta-feira, abril 29, 2010 4:13:00 da tarde  

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