Serra de Mu - Medronhos e cogumelos 27 Novembro
Quase no alto da Serra de Mu, no lugar de Brunheira, freguesia de S. Barnabé, concelho de Almodôvar, para aí a uns 540 metros de altitude, iniciámos o percurso enganoso com cerca de 17 km.
Por caminhos de terra batida, rodeados de estevas, chaparros, azinheiras e medronheiros, circulamos sempre sob a ameaça de chuva.
O nevoeiro impede o espraiar das vistas pelos montes ao redor.
Os medronheiros apresentam-se engalanados de flores e aqui e ali ainda despontam alguns frutos vermelhos que deliciam os mais atrevidos. Penduradas nas ribanceiras, estas plantas da espécie Arbutus Unedo podem alcançar 10 metros e viver mais de 200 anos, parecem desafiar a gravidade. O que é certo é que resistem aos incêndios, sendo as primeiras em despontar.
Momentos para a foto de grupo no local mais profundo do trajecto - Vale da Rata.
O Monte Novo das Cruzes esconde o Monte das Cruzes, onde algumas casas reconstruídas levam mais do que um a fazer novos planos de vida. Já cá chegou a luz eléctrica e os alemães já cá estão.
Um forno enorme ocupa o terreiro em frente à linha das casas mostrando a particularidade de estar totalmente construído em pedra, incluindo o tecto, que apresenta pedras sobrepostas. Nesta serra a maioria das casas estão construídas em adobe - mistura de barro com cascalhos. Percebe-se facilmente a importância do forno, levantado em pedra, na vida dos habitantes de outrora.
Almodôvar ainda hoje é terra de pão. Dezasseis padarias artesanais o atestam.
Mais uma descida , mais uma subida e eis-nos num local aprazível, apesar do frio cortante, encimado por uma mesa estrategicamente colocada debaixo de uns quantos pinheiros mansos. Tudo rodeado de medronheiros. Assentamos arraiais e deliciamo-nos com as parcas merendas. Salvou-se o copinho de medronho que alguém ofereceu ao grupo, e os bolos - não sei se seriam "costas", mas estavam deliciosos.
Momento único foi a revelação da origem dos intrigantes orifícios que enchiam os troncos dos pinheiros. Teriam sido caçadores insatisfeitos, pica-paus distraídos? Pois não. Alguns apresentavam cascas de pinhão no interior, tornando ainda mais intrigante toda esta estória. Então o companheiro Arménio, homem de tachos e habituado a observar a criação - perus, patos, pombos e diversos galináceos povoam a sua quinta , explicou: - Os pássaros picam a casca mais macia do pinheiro até caber um pinhão, depois vão buscar os pinhões, colocam-nos no orifício e martelam-nos contra a superfície dura do tronco, aproveitando o facto de estarem entalados, até a casca ceder e abrir caminho parta o tão desejado miolo do pinhão. Não será isto inteligência?
Depois de bordear a nascente do Mira, sempre lá no alto começamos a descer para o rio.
Caminhamos agora ao lado de um fio de água - o rio Mira. Mas dá para perceber a origem incerta do MU - que antigamente significaria local das mil águas.
Pois é tínhamos de atravessar o rio, é a nossa sina. Aqui não há alternativa, nem saco de plástico que nos valha. Felizmente o Mira ainda não assusta. Com a freguesia de Santa Clara a Nova à vista,acompanhados por uma simpática representante da autarquia, falta ainda falar dos cogumelos, dos muitos que vimos pelo caminho, e que dão nome à feira em S. Barnabé, e apresentar-vos 3 lepiotas enormes, que me fizeram companhia o resto da viagem.