sábado, 29 de setembro de 2007

Penafiel-Terras do Vinho Verde

22 e 23 de Setembro de 2007
7 da manhã, já é costume, e lá partimos com destino marcado à região dos vinhos verdes, no caso, Penafiel. Chegados à Quinta da Aveleda pelas 11,30 esperavam-nos a Xana, o Pedro e o Renato, da Verde Vivo, que nos haviam de acompanhar estes dois dias. Diz-se que Aveleda será o nome de uma profetisa que ficou na tradição dos povos germânicos como símbolo de todas as mulheres que predizem o futuro - as Velledas - e que, para engrandecer o seu povo, eram sacrificadas aos deuses. Seria aqui a morada de uma tal profetisa. Talvez... Guiados por uma funcionária da Quinta percorremos os caminhos deste jardim que se confunde com um bosque ou mata tal a quantidade de grandes árvores tais como pinheiros, ciprestes, carvalhos e eucaliptos que criam um toldo para os musgos, as azáleas e hidrângeas de várias cores. Elementos arquitéctónicos surgem-nos ao caminho de onde se destacam uma janela manuelina pertencente à casa do Infante D. Henrique, o Navegador, e de onde se diz que foi mais tarde aclamado rei, na cidade do Porto, D. João IV, A Casa de Chá, em estilo vitoriano no centro do lago principal do parque, O Fontanário das Quatro Estações, uma mirabolante Torre das Cabras e a Casa Senhorial em frente da qual desfilámos quais seres de outro planeta ali chegádos. Num virar de esquina e estávamos junto da Adega Velha. Esta adega deu o nome ao mais nobre produto da Quinta da Aveleda - a aguardente Adega Velha cujo aroma se fez sentir no seu interior. Antes de partir juntámo-nos na Sala de Provas e no alpendre contíguo, debruçados sobre as vinhas da quinta e Vale do Sousa onde testemunhámos a qualidade e frescura de dois dos vinhos da Quinta. "Ganhou" o seco Quinta da Aveleda frente a um massificado Casal Garcia. Saída e rápida chegada a Penafiel onde petiscámos a merenda junto ao Santuário do Sameiro antes de partir para o início da caminhada. Depois de um Verão tímido deparámo-nos com uma tarde quente ao longo do percurso que se iniciou entre eucaliptais e evoluiu por antigas rotas bem marcadas pelos rodados dos já desaparecidos carros de bois. Descemos em seguida para o vale e, os mais encalorados, puderam mergulhar ao seu melhor estilo nas águas do Sousa. Os espectadores não se pouparam a elogios e incentivos! Continuámos a nossa rota em direcção da Ermida de Nª. Senhora do Salto onde o nosso guia Pedro teve o cuidado de facultar explicação pormenorizada do porquê das coisas com direito a provas factuais nas fragas junto do abismo do dito salto. Só não acredita quem não quer! Era tempo de a Xana nos brindar, ali mesmo, com uma aula de recuperação física orientando-nos em excelentes exercícios de alongamentos a que todos aderiram de bom agrado. No fim dos mesmos ficou-nos a sensação de nos ter sido retirado o esforço das pernas, qual sucedâneo de milagre da Srª do Salto! E que jeito nos deu para "atacarmos" de seguida o lanche ali mesmo servido. Que dizer? Pitéus e mimos regionais numa abundância de qualidade e bom gosto que justifica a tal expressão "Um verdadeiro manjar de reis" que os pais da Xana simpáticamente nos prepararam! Faltava ainda testar a pontaria de alguns arqueiros e arqueiras que não se fizeram rogados nesta proposta desafiante, também esta orientada de perto pelo Pedro.
Domingo saímos a pé em grande estilo do hotel onde ficámos alojados e dirigimo-nos para o centro de Penafiel atravessando o centro histórico até ao Museu Municipal onde tivémos visita guiada. A Exposição Permanente, limitada pela situação provisória das instalações, documenta, por uma lado, a história antiga no espaço do Município, com apoio em espólio arqueológico recolhido em diversas freguesias, com particular relevância para o proveniente do Castro de Monte Mozinho. Por outro lado, evoca a vivência e actividades de subsistência dominantes nesta região até meados do século XX, com destaque para a casa rural, o ciclo do pão e a moagem hidráulica, o ciclo do linho e as indústrias têxteis domesticas, ofícios mecânicos, a pesca e o transporte fluviais. As Exposições Temporárias incidem em temáticas muito diversificadas, estando no presente uma mostra dedicada às artes do ferro. Dali rumámos ao surpreendente Castro Mozinho, povoado castrejo de época Romana, fundado no século I d.C. mas com ampla cronologia de ocupação, que chega mesmo a atingir o século V. Fortificado com duas linhas de muralhas o Castro possui uma extensa área habitada, com cerca de 22 hectares, e apresenta diversas reformulações urbanísticas sendo possível observar vários tipos de construção que fomos conferindo ao longo deste trajecto.
As escavações tiveram início em 1943 foram retomadas em 1974 e, desde então, sucederam-se várias campanhas mas, infelizmente, não tantas como seria desejável tal é o manancial que a responsável por aquele espaço nos descreveu de forma acessível, alegre e cheia de vitalidade. A regressar com mais tempo, sem dúvida. Depois do convívio ao almoço no "Sapo" e antes do regresso a Lisboa visitámos o Lugar de Quintandona, freguesia de Lagares. Ao abrigo do programa de recuperação de aldeias rurais, Quintandona, tem vindo a renascer como nos foi explicado pelo Sr. Presidente da Junta de Freguesia local ao longo do passeio pela localidade. Uma recuperação que não assenta apenas na arquitectura ou manutenção de traças mas que também se esforça por manter uma actividade cultural consubsanticiada, por exemplo, no Festival de Música Tradicional de Quintandona que ali se tinha realizado no dia anterior. É tentadora a ideia de nos deixarmos envolver por entre ruas, ermidas e campos sem horizontes, por entre sons, cheiros da gastronomia, teatro, jogos tradicionais, conversas à mesa, exposição de instrumentos musicais e muita música desta aldeia de Penafiel. Ficou o convite feito. Agora sim era tempo de regressar a Lisboa não sem antes os inexcedíveis Xana e Pedro nos presentearem com um conjunto de lembranças alusivos à região. Bem hajam! Fica prometido um regresso.










































quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Andando a pé e de canoa em Constância

15 de Setembro de 2007
Fomos visitar o Parque Ambiental de Santa Margarida. Espaço muito bem delineado com insfraestruturas excelentes para aprender e lazer. Acompanhados pelo Tiago, que nos proporcionou uma lição muita motivadora para a conservação do meio que nos rodeia, partimos para a Ribeira de Alcolôbre lá prás bandas do Tramagal.
Se todas as câmaras municipais deste país conservassem os seus melhores espaços ambientais para usufruto e educação das populações, certamente poderíamos espreitar o paraíso pelo menos aos fins-de-semana.
A ribeira corre entre arribas e alberga no seu seio muitas azenhas abandonadas,sendo coberta por densa vegetação que protege o encanto destas paragens.
Mas vamos ao passeio.
As ruínas do que outrora foi uma "villa" romana anuncia-nos que por aqui passaram povos desde tempos imemoriais, aproveitando as excelentes terras de aluvião que periodicamente eram alagadas pelas águas do Tejo. Após breve explicação ladeamos a estrada alcatroada e embrenhamo-nos num caminho de terra, ziguezagueante, e logo recebemos a companhia de um podengo alentejano mimoso e brincalhão. Após breve subida toca a reunir e ficamos a saber que em breve iriamos conhecer o território da lontra e do bufo real. A escadaria cavada na terra dura ladeada de estevas e sobreiros descobre-nos uma construção recuperada, outrora azenha e habitação de algum moleiro eremita, e despeja-nos na margem da ribeira tapeada por arbustos e incomodativas silvas. Mas as amoras silvestres aliviam-nos as mazelas e enchem-nos de paladares. A corrente impetuosa reveladora de um excelente caudal surpreende-nos e ajuda a entender o porquê das azenhas aqui implantadas. O odor imcomparável dos amieiros entra-nos pelas narinas e os raios solares que escapam por entre a folhagem espraiam-me nas águas da ribeira. Caminhamos numa extensa fila, pois aqui o trilho é muito estreito, e as silvas vão-se agarrando onde podem tentando barrar o caminho aos intrépidos usurpadores do sossego que habita estas paragens. De vez em quando olhando atentamente lá descobrimos os excrementos de alguma lontra tragadora de lagostins. Além destes alguns peixes povoam o fundo do rio, bordalos sobretudo. Agora há que passar o açude, muito bem conservado, e visitar a margem esquerda da ribeira. Acompanhando as margens decorrem os canais que outrora conduziam a água em queda vertiginosa sobre as pás que moviam o engenho. Saltitando de margem em margem embrenhamo-nos no espírito deste lugar ídilico tão próximo da civilização mas tão bem conservado e guardado. Desejamos, com quanta força que temos, que um dia não seja apenas memória. Após percorrer cerca de dois quilómetros de floresta ripicula , apesar de não termos visto a lontra, nem adivinhado o bufo real, saímos reconfortados de tão bela experiência.
Outros percursos nos esperam.
Após frugal refeição na Praia Fluvial de Constância, equipados a rigor, embarcamos em frágeis embarcações - 17 ao todo, em viagem pelo Tejo.
Os areais vão-se sucedendo, alternando com os amieiros. As embarcações dos pescadores ribeirinhos sucedem-se ancoradas em improvisadas estacas e um casal de garça real acompanha-nos fugazmente. Depois de calcorrear caminhos nada como saborear o deslizar das quilhas abrindo as serenas e escassas águas do Tejo - inesquecível. Paragem para o banho e para retempero das forças num extenso areal. De repente avistamos uns torreões à nossa frente que rapidamente se completam com a visão do castelo de Almourol. Visto do rio impõe certo respeito à pequenez das nossas vidas. Atracagem titubiante e eis-nos na margem para uma visita apressada a tão ilustre companheiro. Fazemo-nos de novo ao "mar" e o véu diáfono do entardecer começa a envolver-nos, despertando a nossa curiosidade para os imensos peixes que, literalmente, voam à nossa frente. Aqui e ali um pato esvoaça espavorido e uma gaivota grasna assustada por tanto movimento. O cais de Tancos espera-nos e finalizamos em beleza este pequeno passeio fluvial. Tancos surpreende-nos com as suas ruas calcetadas e os seus espaços verdes a convidar à preguiça, mas outra etapa estava guardada para terminar este dia de forma magistral.
No espaço em frente ao castelo de Almourol juntam-se quatrocentos curiosos para assistir à peça de teatro "Viriato" representada pelo Fatias de Cá. Quanto a este evento não temos palavras para descrever o encanto do espaço e o cirandar de cerca de 100 figurantes que durante duas horas nos encheram a alma, com o pôr-do-sol a beijar o rio, até que as trevas iluminadas por archotes romperam entre as escarpas do castelo - magnífico.























































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