sábado, 19 de março de 2011

March 20 - Hoje ninguém me veio visitar ...

Se continuo a andar? Sim, continuo. Hoje fui dar um passeio no meu jardim.
Saí do quarto, atravessei o corredor, entrei na cozinha, atravessei de novo o corredor e entrando na sala avistei o meu jardim. Reflecti, e decidi, hoje vou andar por aqui.
Assim desloquei-me entre as petunias e os amores-perfeitos, num vai-vem incessante. Cruzei-me com o pinheiro solitário, revisitei as duas oliveiras. Junto à figueira parei observando o despontar das primeiras folhas. A romanzeira ainda ostenta um fruto formoso. Os carvalhos já fazem alguma sombra. Mas a árvore que mais admiro é uma azinheira que me lembra a planície alentejana. O pessegueiro parece querer dar frutos de novo tal o ímpeto dos seus botões.
Perdi certamente muitas horas nesta caminhada. Ou terei ganho muitas, quem sabe!
As viagens interiores, limitadas pelo nosso pequeno mundo, revelam detalhes que nos grandes percursos nos passam despercebidos. Quantas vezes passei ao lado de um pé de poejo na beira de um regato? Aqui perdi minutos observando com detalhe os rebentos olorosos, de um verde intenso. Remirei as folhas recortadas da salsa. Inalei o aroma de uma folha de hortelã. Enfim perdi-me nas formas e nos aromas do meu jardim.

Mas, hoje ninguém me veio visitar
Apenas o azul do céu e o do mar
Apenas os raios intensos do sol
Vieram me acariciar

Não fosse a companhia
De três gaivotas solitárias
Uma toutinegra
Meia dúzia de papagaios
Quatro estorninhos endiabrados
Uma milheirinha
Alguns corvos marinhos
Três ou quatro rolas
Duas andorinhas
E por fim, uma garça real ...

O tempo teria transcorrido
Como se tempo não houvesse
E nada mais além da minha caminhada
No meu pequeno bosque encantado
Preencher o meu vazio pudesse

Porque ninguém me veio visitar
Excepto o azul do céu e o do mar
E os raios intensos do sol
Que se foram ... sem me acariciar

March, 20










6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Espectacular! Orgulho em ser tua filha! ;)

Ass:

A filha (mais nova).

sábado, março 19, 2011 11:21:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Que texto maravilhoso! PARABÉNS.

quinta-feira, abril 07, 2011 11:56:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Parece-me uma escrita no feminino, com muita sensibilidade, aquilo que as mulheres sentem muito mais, acertei?

sexta-feira, abril 08, 2011 12:00:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Parece-me uma escrita no feminino, com muita sensibilidade, aquilo que as mulheres sentem muito mais, acertei?

sexta-feira, abril 08, 2011 12:10:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

hoje estive a ler o teu texto e passeie contigo pelo teu jardim, com a beleza das tuas palavras e as emoções que provocam.
foi muito bonito

quarta-feira, abril 13, 2011 4:13:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ó moço és um perfeito poeta, mesmo sendo fadista as mais das vezes entre as gentes. É a sensibilidade feminina que te salva, homem, senão ficavas-te pelo caminho!
À volta (e à ida) te esperamos. Marbom

segunda-feira, maio 02, 2011 8:20:00 da tarde  

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