terça-feira, 21 de setembro de 2010

Azores - Ilha das Flores Day 3 Caminhando nas Nuvens

VER MAIS FOTOS - As lagoas - Funda e Comprida, apresentaram-se entre brumas. O dia prometia ser penoso pois as nuvens baixas, muito frequentes a partir dos 600 metros, dificultam a progressão e exigem a máxima atenção ao grupo. O carreiro não se distingue entre os arbustos e o piso é muito irregular. Felizmente, hoje não trouxemos chinelos.
A lagoa Funda com os seus 108 metros de profundidade, também chamada negra (já foi), e a lagoa comprida, impressionam com qualquer tempo.
O percurso contorna as lagos até alcançar a estrada que leva ao Morro Alto - 920 metros. Ali topamos com a caldeira seca. Depois viramos à esquerda e enfiamos-nos nos arbustos, tentando percorrer um trilho lamacento, cheio de perigos, e que obriga a constantes desvios. Mais uma vez o gado frequenta estes caminhos deixando um rasto de buracos que exigem muita atenção. Após meia hora de caminhada chegamos à Lagoa Branca, excelente observatório de aves com um abrigo para birdwatching.Ver AVES de Portugal
Hoje, mais uma vez, viemos todos. O mais jovem com 71 anitos nem sequer é o mais lento. Os charcos avisam os mais incautos de que aqui só são permitidas botas... impermeáveis. Ainda temos umas 3 horas de caminho e já levamos os pés encharcados.
O nevoeiro torna-se mais fechado à medida que avançamos na estrada de bagacina. Por aqui ainda se vêem muitas hortênsias floridas - estamos em Setembro -, devido ao facto de a temperatura ser muito mais baixa do que nas Fajãs.
 Fajãs, fajãzinhas, quebradas, fanais, lajedos, rolos e picos, morros, mosteiros... Tudo termos usados no tempo do povoamento. O encanto desta ilha multiplica-se pelas diversas abordagens que o visitante pode escolher - história, geologia, geografia humana (povoamento), paisagem, mar, meio subaquático, birdwatching, meteorologia (aqui nasce o anticiclone dos Açores) - no mesmo dia é possível sentir as 4 estações -.
Subimos mais uns metros - até aos 700 -, e depois, daí, até ao mergulho nas águas azuis da costa ocidental.
O nevoeiro dificulta a coesão do grupo e as pisadas afastam-se do caminho, com frequência. Não fosse o nosso guia, tão experiente e conhecedor destas paragens, em breve, seríamos um grupo tresmalhado. A cancela de madeira avisa - close me. A mim nada me diz, mas denuncia os frequentadores destas paragens. Portugueses nem vê-los - somos para aí o terceiro grupo a visitar a ilha, cirandando.
Não resulta fácil descrever o que nos rodeia - será precipício, será vaca pastando?.
Mais um portão de pau de urze, ou será cedro autóctone, impede a passagem das vacas para o pasto do vizinho. Mas onde é que elas estão? O estômago dá horas e é tempo de procurar um sítio para estender a merenda. Não se vislumbra onde possa ser. O terreno escorregadio e abrupto, e o nevoeiro cerrado, aconselham a prosseguir. Por fim os farrapos das nuvens vão descobrindo campos verdes lá no fundo. Alguém vocifera: - Ainda temos que descer tudo isto? Sim, temos. Cada um procura o melhor local, na encosta íngreme, para se sentar e trincar a merenda. Hoje isto não está para grandes banquetes. Mas alguém destapa a rolha de uma verde garrafa e o precioso líquido alegra mais do que uma alma.
A partir daqui já se vai vendo alguma coisinha, e impressiona. Os verdes, os muros, o mar. Entre cortinas de bruma vão desfilando imagens. Os pombos da rocha voam abaixo de nós. As escadarias de pedra, centenárias, traiçoeiras, resvaladiças, fazem-nos tremer as pernas. Olhando atrás, para cima, parece irreal que o caminho exista e possa ser percorrido por cinquentenários(?). O desafio entusiasma. A adrelina está presente a cada passo. As pedras soltas junto com a folhagem húmida revelam-se armadilhas fatais. Duas ou três quedas o atestam . Ladeados de cedros e urzes, de lava, de verde e lá em cima de breves instantes de azul parece estarmos próximos do paraíso.
Chegamos por fim a uma galeria que desemboca no ribeiro e reunimos o grupo. Todos satisfeitos e maravilhados, mas sem forças para seguir. A neblina não convida ao mergulho, mas a promessa de borbulhas que fluem em líquido de dourado intenso, levam a algumas desistências.
Outros continuam. Por estrada nova e logo pelo caminho ancestral, aventuram-se por trajectos desconhecidos. Mas a 7.ª maravilha, no que a lagoas se refere, atrai a curiosidade e a teimosia de alguns.
As cabras estão ali postadas como que a lembrar-nos o que realmente somos - 600 metros de desnível na Rocha atestam-no.
O caminho desemboca na estrada e pouco à frente começa à esquerda mais um caminho murado, mas pouco batido. Hesitamos e por fim decidimo-nos pelo alcatrão. O adiantado da hora afasta-nos - ou será o receio do desconhecido?, de mais aventuras. Passamos a pedreira, entramos na estrada principal e após a ponte da Ribeira de Ferreiros - intransponível até aos anos 50, entramos num caminho bem empedrado, que nos levará, sempre subindo até à Lagoa das Patas. Pelo caminho, ladeados de arvoredo composto por escassos cedros centenários e muitas cryptomerias, chegamos. As nuvens rasgam o local, acentuando o seu carácter misterioso.
No regresso viajamos até ao Centro de Interpretação Ambiental do Boqueirão, onde aprendemos mais da fauna e da flora desta ilha maravilhosa. Com 75 % da população nidificante de Cagarros e colónias importantes de Garajaus, e a visita regular de outras centenas de espécies de aves, as Flores revelam-se um sítio privilegiado para o Birdwtaching. E do mar o que dizer? Cachalotes, golfinhos, baleias e enormes chernes, bodiões, vêjas, peixes-porco, lírios, írios, garoupas, cavacos, cracas, lapas, e até ameijoas povoam os fundos intensamente azuis destas paragens.
Um agradecimento especial à Marlene que com as suas interjeições em tom jocoso motivou o grupo de sexagenários ao longo de 3 visitas. Ouvir as cagarras ou cagarros











 







1 Comments:

Blogger tigusto said...

Valentes! Essa descida com neblina e percurso molhado não é pêra doce!

terça-feira, setembro 21, 2010 10:43:00 da tarde  

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