domingo, 27 de junho de 2010

Etapa 14 - caminho Francês O Cebreiro - Triacastela

Hoje temos companhia. Duas portuguesas autênticas iniciam aqui o caminho connosco.
São muitos os peregrinos que aqui começam.
Por um lado evitam-se quilómetros e também as paisagens uniformes e duras de Castilla e León, por outro a Galiza oferece muito mais infraestruturas para percorrer o Caminho. E além de tudo o mais temos distância suficiente para conseguir a Compostela apenas para pedestrianistas. Os ciclistas devem começar uns 100 km mais atrás em Astorga.
Percorremos as ruelas, espreitando pela porta os diferentes Albergues e Pousadas. Por fim entramos numa casa de pedra, onde servem "desayunos". Mesas e bancos de madeira distribuem-se um pouco aleatoriamente. Escolhemos o nosso espaço e sentamo-nos. A camareira pede-nos para aguardarmos. Por fim lá vêm as tostas e os cafés - como já expliquei a esta hora ainda não chegou o padeiro. Aqui chega tarde e a más horas e sempre apita mais de três vezes, para irritação de quem caminha e medita.
A maioria dos peregrinos já partiu há muito deixando um rasto de suor e lágrimas para quem agora começa. Lembro que muitos vêm de San Jean de Pied de Port - apenas uns 700 quilómetros mais atrás.
Um grupo de franceses, na sua maioria mulheres, despede-se dos voluntários que gerem um excelente albergue à saída de O Cebreiro. Um grupo de cavaleiros apruma-se para o "take One" sob um nascer do sol deslumbrante.
Notamos que hoje a companhia aumentou. Um inglês jovem e simpático aborda-me e lá vamos em amena cavaqueira por um par de quilómetros. De onde vens, para onde vais, porque fazes o caminho, só ou acompanhado, casado ou solteiro. Mais ou menos o trabalhas ou estudas nas abordagens ao sexo feminino por alturas dos meus vinte anos.
Subimos por um bosque de pinheiros alpinos, que por aqui abundam. Subimos e continuaremos a subir - afinal o ponto mais alto no caminho ainda nos aguarda lá ao longe. Chegamos à estrada alcatroada que atravessamos cuidadosamente e tomamos um caminho paralelo. E assim continuaremos.
As paisagens são deslumbrantes a um e outro lado do nosso percurso. Montes ondulados e picos semi-escondidos pelas neblinas matinais.
Lá chegamos  ao Alto do Poio, a 1300 metros de altitude, após termos galgado um subida empinada.
Assentamos arraiais na esplanada de um bar. A proprietária lamenta-se junto de um galego da terra, contando que na noite anterior tinha sido assaltada. Olha-nos com desconfiança e cobra-nos mais do que o devido. Enfim, escolhos do caminho.
Nisto, chega um autocarro que despeja  umas dezenas de caminheiros na picada. Vai ser difícil circular, tão apinhado está o percurso.
Paramos para tomar umas fotos junto a um enorme monumento ao peregrino. E lá seguimos no meio da multidão.
Os carreiros delimitados por muros de pedra, decorrem debaixo de sombras acolhedoras proporcionadas por enormes castanheiros e esbeltos carvalhos. Os campos compõem-se de pastagens delimitadas por árvores ou muros. Verdes de diversos matizes estendem-se diante dos nossos olhos - erva crescida, erva cortada, erva secando, erva enrolada.
De repente ouvem-se gritos estridentes.
O caminho decorre entre paredes de terra encimadas por árvores de grande porte, e o desnível a que circulamos não nos permite observar os campos em volta.
Os gemidos ganham maior intensidade e ora se afastam ora se aproximam. Alguns param expectantes, outros armados de máquinas de retratar tentam apontar objectivas em direcção à fonte do ruído. Nada! Pessoas, pássaros, outros bichos! Nisto, repentinamente, na beira da ravina adivinham-se dois vultos. As objectivas disparam incessantemente. Observo atentamente e consigo perceber dois focinhos aguçados, malhados alternadamente de cinza e negro. São dois texugos desavindos e brincalhões que vendo o seu território invadido protestam com veemência. Lindo! Outros dirão assustador! Outros ainda pensarão em aparições. No fundo é apenas a Mística do Caminho, que, nos pode transpor para as múltiplas formas do  Caminho Místico.
Entramos em Triacastela. As casas dispõem-se ao longo da única rua que percorremos. Primeiro à nossa esquerda a Igreja, que visitamos. E depois os Albergues, as Pensões, os Bares, tudo e apenas para o peregrino.
Parece que este ano de 2010 esperam cerca de 300.000 em Santiago! Irão a pé, de burro, de cavalo, de bicicleta e também de patins. Até de barco, vindos da Old Albion, pelo chamado caminho Inglês.
Este caminho, o Francês, representa ainda cerca de 80% do total. Mas temos o caminho do Norte, o Caminho Português, a Ruta de la Plata. E depois temos ainda várias derivações ou novas invenções - Caminho de Madrid, Caminho Central Português, Caminho do Tejo ( via Fátima), Caminho Aragonês, Santiago-Finisterra com a sua extensão a Muxía e o mais o que está para vir. Eu prefiro a "Via Algarviana" menos mística e muito menos concorrida.
Ver Fotos: O CEBREIRO - TRIACASTELA 

1 Comments:

Blogger tigusto said...

Boas!
Há outros Caminos menos concorridos como a Via de Plata. Porém tem menos apoio e acaba por entrocar no Caminho Francês em Astorga ou Ourense. http://www.santiago-compostela.net/vdlp/index_cv_en.html
Abraço

terça-feira, junho 29, 2010 12:15:00 da manhã  

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