Completamente escarallado - Camino Santiago Etapa 11 - Rabanal del Camino - Ponferrada 33 Km
O dia ameaçava aquecer quando nos despejaram em Rabanal del Camino. Muitos peregrinos que dormitaram aqui pelos albergues ainda não tinham partido. Começamos a subir para a etapa que se presume mais emblemática do caminho, já que supõe chegar à Cruz de Ferro. Por caminhos de terra, atravessando aqui e ali a estrada, lá fomos com os picos dos Montes de León nevados, sob um céu limpo e muito azul. As vacas apascentam por todo o lado e é difícil evitar as bostas, mas o verde intenso que ladeia o trilho compensa. Paramos em Focebadón num albegue um pouco desorganizado onde encontramos o alemão loiro vestido de negro - figura enigmática, que vimos encontrando ao longo do nosso percurso. Também as simpáticas brasileiras por aqui pernoitaram.Hoje o dia não está para muitas conversas. Seguimos a ascensão que se mostra fácil. Vamos subindo suavemente por entre estevas e carvalheiras chapinhando nio que resta das últimas chuvadas. os ciclistas optam pela estrada alcatroada. Por fim, após uma curva mais fechada avistamos a Cruz de Ferro. Assustador. Multidões fazem-se fotografar, um grupo acampa para a merenda. Aproximamo-nos e acrescentamos mais umas pedrinhas ao amontoado de calhaus. O aspecto deste local é tétrico. Penduricalhos de todo o tipo - peúgos, fitas, gorros, botas, papeletas, roupa diversa - ondeaim por todo o lado. Parece que quem aqui chegou já cumpriu. O quê? Não vislumbramos. Afastamos-nos a todo o correr deste local e em breve começamos a descer por um caminho ao lado da estrada, muito bem acondicionado. Os trabalhos de recuperação são aqui muito visíveis e iludem-nos. O pior está para chegar. O calor, a etapa longa, e os raros locais para abastecimento tornam esta etapa a mais dolorosa.Os pés já estão curados, mas os joelhos não vão aguentar tanto declive. Após a cruz de ferro deparamos-nos com mais um casebre bandeirado a servir de Albergue. A água vem de carrinho sabe-se lá de onde. Os alemães estacionam por aqui. Do lado oposto da estrada as latrinas improvisadas revelam mais sobre este paraíso. A única explicação que encontramos é a distância a que fica o próximo apoio - a cerca de 1 hora. O calor aperta. caminhamos pela orla da estrada e algumas vezes pelo alcatrão.Os montes de Leão trazem-nos imagens de frescura. Não vemos aldeia e os caminheiros são escassos. Repentinamente aparecem uns telhados de xisto. Primeiro o cemitério e depois uma ruela ladeada de casas asseadas e arranjadas. As obras concluem-se aqui e ali. será por ser ano Santo ou porque esperam muitos visitantes? Não fosse o esgoto entupido escorrendo para o meio da rua, estaríamos no sítio perfeito para pernoitar. São para aí 14h00 e os Albergues, vários, estão a abarrotar. A aldeia com todas as suas casas de pedra cobertas de telhas de Xisto é realmente encantadora. Acebo assim se chama o local. Continuamos pois não temos tempo a perder. Ainda faltam cerca de 4 horas até ao destino - Ponferrada.
Saímos pela estrada alcatroada, mas, uma centena de metros entramos num caminho em muito mau estado. Pedras pontiagudas, lajes escorregadias, lama, árvores caídas. De tudo um pouco. Um grupo a cavalo é obrigado a voltar para trás. Aqui nem os cavalos passam. Os ciclistas carregam as Bikes ás costas e lá vão progredindo. Este caminho é uma verdadeira penitência. Ziguezagueamos pela encosta e tentamos adivinhar a próxima povoação. Riego de ambrós não tem nada para conta. A última hora até Molinaseca seca vai ser infernal - pedras soltas, caminho de cabras, calor intenso. Tropeçamos uma e outra vez pois os joelhos já se não dobram e levantar os pés torna-se cada vez mais pesaroso. O silêncio é aqui natural. O desejo de chegar a bom porto emudece os nossos passos. Por fim avistamos a estrada, os cavalos, o rio, a ponte. Atravessamos a ponte e entramos em mais uma povoação encantadora - Molinaseca. Será pelo cansaço?
Saímos pela estrada alcatroada, mas, uma centena de metros entramos num caminho em muito mau estado. Pedras pontiagudas, lajes escorregadias, lama, árvores caídas. De tudo um pouco. Um grupo a cavalo é obrigado a voltar para trás. Aqui nem os cavalos passam. Os ciclistas carregam as Bikes ás costas e lá vão progredindo. Este caminho é uma verdadeira penitência. Ziguezagueamos pela encosta e tentamos adivinhar a próxima povoação. Riego de ambrós não tem nada para conta. A última hora até Molinaseca seca vai ser infernal - pedras soltas, caminho de cabras, calor intenso. Tropeçamos uma e outra vez pois os joelhos já se não dobram e levantar os pés torna-se cada vez mais pesaroso. O silêncio é aqui natural. O desejo de chegar a bom porto emudece os nossos passos. Por fim avistamos a estrada, os cavalos, o rio, a ponte. Atravessamos a ponte e entramos em mais uma povoação encantadora - Molinaseca. Será pelo cansaço?
Vinhamos de bico afiado para abancamos na casa Ramón - fechada. Lá nos encaminham para outro bar. Almoçamos muito bem. Estranhamos que os outros comensais se afastem da nossa mesa. Devemos tresandar a bosta de vaca, misturada com suor quente e húmido. Após o café da praxe erguemo-nos e, apesar do calor e do alcatrão a exalar ondas de calor pomo-nos ao caminho.Ainda nos esperam duas horas de sacrifício. Já próximo de Ponferrada cruzamo-nos com desportistas de fim de tarde. Estar-se-ão a preparar para o Caminho? Entramos em Ponferrada. Os sinais são confusos e cruzamos várias vezes a via. por fim chegamos ao castelo dos Templários. Ponferrada tem muitos encantos. Monumentos, praças e ruas limpas. As esplanadas convidam a uma bebida fresca. O rio ameniza o conjunto. Trata-ta-se do famoso rio SIL. O Hotel Arói Ponferrada acolhe-nos. Após um merecido e curto descanso a cidade espera-nos. O caminho faz-se caminhando, e também se faz parando... E visitando, e convivendo. O caminho em si não seria nada sem as suas circunstâncias. Assim se mantenha por muitos séculos.
Cheguei completamente escarallado - diz-se do caminho após chuvadas intensas. Assim me sinto eu.
Cheguei completamente escarallado - diz-se do caminho após chuvadas intensas. Assim me sinto eu.
1 Comments:
Quando passei na Cruz de Ferro o nevoeiro e a água neve erãm tão intensos que só vi a dita a meia dúzia de passos dela! Dizem que as vistas, a paisagem dali são lindas mas terei que lá voltar para saber a verdade. Na descida a seguir, quando cheguei a Acebo, entrei num bar que tinha duas salamandras acesas que me descongelaram o corpo já que a alma, essa, teve que ser alimentada com dois valentes conhaques na companhia do Hans que repetia a única coisa em alemão que eu percebia:
-José, Hans kaput!!
Não kaput nada, dizia-lhe eu em alemão com sotaque transmontano!
Mas "kaputou" mesmo e desistiu em Molinaseca, lugar que me deixou boas recordações já que conheci aí a Francesca, a Sarah e o Ricardo e que fomos mais ou menos juntos até Santiago. Chamavam-nos a família tutti frutti por ser um de cada nacionalidade. Amigos na ocasião mas que se mantêm até hoje.
Abraço!
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