segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Via Algarviana - Monchique , Fóia e Marmelete

Via Algarviana - Monchique , Fóia e Marmelete - 31-10-2009
Depois de umas quantas curvas, vindos de São Marcos da Serra, o impacto visual de um vale encaixado entre dois picos - Picota e Fóia, polvilhado de casas brancas entremeadas de verdes de diversas tonalidades, não nos deixa indiferentes.
Se à paisagem acrescentarmos a riqueza que brota das profundezas desta terra moldada pelos sienitos, então estaremos próximos do paraíso.
Mais uma vez aceitámos o desafio das simpáticas gentes da Almargem, para mais um fim-de-semana em terras Algarvias.
Monchique de face lavada e bem bonita recebeu-nos no seu Largo dos Chorões, para aqui iniciarmos mais um sector da Via Algarviana sector 11 Monchique - Marmelete - 14,7 Km. Via_Algarviana
Este caminho que nos conduz por 240 km de Alcoutim ao Cabo de S. Vicente, revela-nos um outro Algarve - serrano, rude - mais cheio de encantos e tradições. Assim continue...
As nossas simpáticas guias lá nos conduziram por uma subida íngreme em direcção à Fóia.
A primeira paragem, obrigatória, revela-nos o Convento do Desterro do séc. XVII, lastimavelmente em ruínas, mas com muitas promessas de um dia voltar a bulício de outras épocas. Não visitámos a exuberante magnólia mas constatamos que o bosque de sobreiros centenários também merece ser preservado.
Deste local as vistas sobre o vale e a vila de Monchique são lindíssimas e lá ao longe avista-se o alto da Picota.
Continuamos sempre a subir, agora rodeados de eucaliptos, mas rapidamente a nossas expectativas de uma subida muito cansativa se desvanecem pois já estamos quase no alto da Fóia.
Aqui o monte pelado, coberto apenas de vegetação rasteira, abre-nos um campo visual interminável a norte.
Chegados ao alto preparamo-nos para retemperar forças empoleirados nas grandes moles rochosas, avistado a linha da costa ofuscados pelo brilho intenso das águas algarvias.
A ocidente em dias muito limpos, também se avista o oceano Atlântico para os lá de Aljezur. Hoje uma franja de nevoeiro muito denso cobre toda a linha da costa.
A merenda é composta por diversos pitéus - presunto de chaves, paio alentejano, queijos da Marofa e de Castelo Branco, Tortilla, torresmos, leitão, frango frito "ao alhinho", pão de Martim Longo, peixinhos da horta, broas de Mafra, doce de abóbora, etc.
Com esta paisagem aos nossos pés, e já aconchegados, ficaríamos por aqui até ao pôr-do-sol.
Mas, como só se faz caminho ao andar - como dizia Machado, circundamos (quase) o talefe, e quase 30 metros depois, em vereda relvada, e após ultrapassarmos uma porta basculante - novidade, internamo-nos no monte, onde aqui e ali uns quantos pirliteiros resistiram à força dos elementos.
Alguém mais conhecedor descobre um cogumelo - Lepiota, e após esta descoberta logo outro se encontra mais adiante, e mais além um temido amanita, e surpresa, um exemplar grandioso de Leccinum.
Pois é, estamos numa encosta virada a noroeste onde os ventos atlânticos chegam carregados de humidade e alimentariam em tempos idos, - que pena - bosques frondosos de carvalhos e castanheiros, que proporcionariam o sub-extracto adequado à existência destas espécies. arvores-do-sul
Mas ainda resta um souto onde nos deliciamos com a apanha de suculentas castanhas.
Com estas condições só nos resta apelarmos a todas as entidades e particulares para reflorestarem esta encosta com as espécies arbóreas de outrora. Pela nossa parte oferecemos os nossos braços para tão nobre obra.
Circundamos uma charca e iniciamos uma ligeira descida ladeados pelos omnipresentes eucaliptos por um caminho florestal bem delineado que contornando a encosta aproveita a curva de nível para poupar esforço a quem por aqui anda.
Esta encosta virada a norte está pejada de construções em ruínas, embora os socalcos prenhes de erva verde atestem que a pastorícia continua presente.
Deparamo-nos com uma cabrada bem composta de exemplares da cabra algarvia, ainda há pouco tempo esquecida, e agora fonte de rendimentos ímpares em todas as serranias destas paragens. Cabra_Algarvia
Esta caldeira trabalhada em socalcos, cheia de construções ganadeiras, parece suplicar um Centro de Interpretação da Pastorícia na Serra de Monchique.
Após passarmos os castelos quixotescos dos tempos modernos, habitados por donzelas faiscantes que nos enchem de esperança quanto ao futuro, descemos entre eucaliptos invadidos aqui e ali por plantas de frutos vermelhos, laranjas, amarelos e verdes que nos enchem de alegria.
Algumas construções em ruínas, totalmente invadidas pelas silvas, levam-nos a imaginar as vidas das gentes laboriosas de outrora que viviam em comunhão com a natureza. Alguém se interroga: - Será possível voltar atrás?
Pensamos que não. Mas podemos seguir em frente sustentadamente. E, lá no fundo, é um pouco isso que nos trás aqui e "Sempre por Maus Caminhos".
Monchique





Sempre a subir...




... Até à Fóia!




GR13- Via Algarviana (Sector 11)


Marmelete! Marmelete!... e cuidado com os peões!

Marmelete

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Após esta descrição tão literariamente bela, exaustivamente pormenorizada e entusiaiticamente descritiva, só apetece voltar vezes sem conta a essa paragens algarvianas

segunda-feira, novembro 02, 2009 3:42:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Este é o OUTRO Algarve. Qual será mais interessante?

segunda-feira, novembro 02, 2009 4:27:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Há sempre dois factores comuns a todas as v. actividades, beleza dos "maus caminhos" escolhidos e alegria que transparece nos participantes. Parabens

segunda-feira, novembro 02, 2009 4:36:00 da tarde  
Blogger Anabela Santos said...

Desta vez li o texto todo, e o "escritor" está de PARABÉNS! A descrição do fim de semana não poderia ser melhor! Foram realmente, 2dois muito bem passados com uma paisagem fantástica, no "outro Algarve" que fica tão perto do tão "famoso Algarve". O grupo é muito divertido, e nunca perde o sentido de humor, nem nas subidas mais difíceis! Assim vale a pena andar "Sempre por maus caminhos"!! Até à vossa próxima visita, afinal, ainda há muito Algarve desconhido para descobrirem!
Beijos

quarta-feira, novembro 11, 2009 9:43:00 da manhã  
Blogger Unknown said...

wow muy interesante escribir muy bien, felicitaciones! y las fotos son grandes

quarta-feira, novembro 18, 2009 3:16:00 da tarde  

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