sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Com o Corno do Bico ás voltas ...

Com o Corno do Bico ás voltas ...
Por caminhos estreitos chegámos a Chavião. Tinha chovido toda a noite.
Apeados do veículo junto a uma providencial "venta" (comércio multifunções, na actualidade), logo vislumbramos a pequena Capela na iminência daquela colina, sob um céu cor de chumbo, aterrador. Em amena cavaqueira com um cidadão local tentamos delinear o nosso passeio, e aceitar a recusa pronta e veemente do nosso interlocutor, não sem antes, nos atirar de soslaio: - Mas onde é que vocês vão? Duas horas (apenas 8 Km, pensámos nós!) de caminho, nem quatro. - Vão mas é comer qualquer coisinha e depois pela tarde, voltem a pensá-lo.
Perante a nossa irreverência lá nos desejou: - Então vão com Deus. Ao que alguém menos avisado, ripostou : - Não é preciso, o nosso guia conhece bem o caminho. E zás, lá partimos com menos uns doze nas hostes convencidos estes por tão sapiente discurso.
Cruzámos a Capela e subindo, observámos os patinhos adorando a senhora - tanto estes como aquela, de cerâmica feitos - no jardim relavado da última casa.
Bosques lindos, sem dúvida. Mas uma pinga aqui outra acolá pareciam querer dizer-nos algo, que "sabiamente" ignorámos.
A fila foi esticando, pois o carreiro era estreito, e alguns, duvidando dos passos que os guiavam ainda voltaram para trás.
O tapete magnífico que nos amorteciam as batidas já algo aceleradas do nosso pobre coração, era composto por milhentas folhas outonais, de castanheiros, carvalhos e azevinhos monumentais. O cheiro a humidade inebriava os sentidos e um ou outro cogumelo já despontava na folhagem. Cores magníficas, embora ténues, ofuscadas pelo céu plúmbeo e pelo porte das faias. Deslumbrante num dia assim...
Alguns regatos rompiam pelas nervuras do terreno, e os pingos aceleravam.
Passamos lugares curiosos, só conhecidos do nosso mapa - Braganda, Travanca, Borregão. Começamos a subir por um caminho amplo deixando a floresta cerrada mas ladeados por imponente bosque de faias.
Já algo dispersos começa a trovejar e chuva, ainda miudinha, entorpece o nosso passo.
Olhamos de novo a carta militar e confirmamos que estamos no caminho certo.
Num cruzamento tabelado, indicando Chavião, hesitamos mas a casmurrice, a que os nossos consultores chamam desejo de vencer ou atingir os objectivos, faz-nos continuar.
Agora já temos os trovões em cima, e os relâmpagos a escassos 2000 metros. A chuva é torrencial. O vento sopra vindo de todas as direcções, e aqui vamos nós intrépidos e inconscientes, digo eu, caminheiros em direcção ao cume. Só que num momento de lucidez, pensando nas palavras do aldeão e recordando o nosso destino cimeiro - Riomau, este velente trota mundos dá meia volta e arrasta todos para trás.
Naquele momento não lhes contei mas cheirou-me a Corno (o do bico) esturrado, e senti o belzebu muito perto de mim.
Só me lembrava das palavras proféticas do nosso contador de anedotas da noite anterior: - O quê... com um tempo destes!
Virámos na placa que indicava Chavião e oh! Pernas para que vos quero!
Encharcados até ao tutano ainda vacilamos duas ou três vezes e nem o GPS nos valeu. Não fosse ele, o guia, conhecer bem o caminho, ainda hoje andávamos perdidos no bosque. Sim, porque os populares perante tão grande temporal já se estavam a organizar para nos ir repescar (!).
Claro que isto não passa de uma alegre brincadeira, porque, rapidamente, aquele guia que o caminho também sabia nos conduziu a bom porto.
Não nos esperasse já o banquete e teriam sido horas de galhofa naquele cafezinho onde não havia memória de tanta gente mudar de roupa em tão pouco tempo e parcas condições. Mas a promessa aqui fica, havemos de voltar num dia, apesar de tanta desdita, e subir ao Riomau, em tão boas companhias, mas não sem antes rezar três benditas Ave-Marias. Ah, e do guia não reza a história. E depois das dificuldades que passei apetece-me declamar poesia:
- OH, Melro que cantas nos pinhais; Oh Melro que cantas nos pinhais...

Continua... Deixo a entoação para os jograis da nossa comunidade.





























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