terça-feira, 13 de março de 2007

Fotografias em palavras 2 - Março 2007

Dia 11 de Março. Curvas e mais curvas, ainda ontem invisíveis no escuro silêncio das arribas do Douro a caminho de Freixo de Espada à Cinta, e agora descobrindo escarpas, e abrindo perspectivas apenas imaginadas, sobre os meandros do rio. As encostas plenas de intervenção humana - olivais e cada vez menos amendoeiras. Já próximo de Barca D' Alva desagua a ribeira do Mosteiro, que corre sinuosa entre escarpas e formações rochosas de quartzitos. Ao longo da ribeira, nas duas margens, meia dúzia de quintas, rodeadas de vistosos laranjais, nas cotas inferiores das ladeiras, depois oliveiras ancestrais, e coroando o terreno arável as floridas amendoeiras. Por aí nos perdemos intencionalmente, esmagados pelos picos abruptos sob o olhar atento dos grifos. Meio entontecidos com a beleza deslumbrante do local, repentinamente, surge-nos pela frente do outro lado do regato uma parede a pique, onde dissimuladamente se adivinhava aqui e ali algo que a natureza humana moldou por necessidade de transpor obstaculos, quem sabe se na fuga ao arbitrio do rio ou à ambição dos homens. Imponente, a calçada do ''diabo'' construída com recurso a grandes lajens de xisto, ziguezagueando para tentar vencer o desnível acentuado do terreno, lá nos transportou para a primeira plataforma. Afinal a Calçada de Alpajares que ainda resiste à fúria devastadora do abandono, nos seus cerca de oitocentos metros, não nos resistiu. Como que agradecida com inesperados visitantes presenteou-nos com paisagens únicas, onde convergiam imagens de escarpas, rios, grifos, laranjais, amendoeiras dispersas e o verde quase florido do rosmaninho, da giesta e da urze.
Sempre a subir, agora por campos inóspitos apenas cobertos de vegetação, lá vislumbrámos a povoação de Poiares, que através de uma ou outra amendoeira, já se deixava adivinhar. Oliveiras e campos de cultivo anunciam-nos o povoado eminente. As casas mais antigas e os palheiros levantados em xisto, pedra sobre pedra, teimam em manter-se de pé quase alheios ao desprezo dos homens. Poiares situa-se num extenso planalto fértil que teima em iludir os poucos que ainda por lá moram. Lá perto fica o Penedo Durão abrigo de "rapaces" que aí se julgam protegidas da curiosidade humana, mas que hoje disputam o seu território com homens alados que procuram matar o ócio citadino.

0 Comments:

Enviar um comentário

<< Home


  •